Quando o pensamento dispara, vixe, já era!

A frase aí de cima é do cronista Xico Sá. Aliás, Xico é um dos quatro melhores cronistas que recebem dinheiro para escrever crônicas nos jornais impressos sobreviventes. Eu estou incluso na lista dos dez melhores do Brasil, entre os que escrevem por prazer. Não sou mercenário, apenas um tantinho assim pretensioso.

Seriamente, porém, de fato e de direito, a gente só vive até o momento em que pensa, cria, concebe um verso, uma cena, uma amizade, um roteiro de vida, um lance artístico que seja original. Na hora em que você começa a se repetir, é chegado o momento solene de começar a redigir a lápide e imaginar o parecer do atestado de óbito.

Ainda não morri. Vez em quando, reflito sobre algo que acho fascinante, gosto da ideia, durmo pensando em burilar o troço, sorrio divertido ao pensar no risco que corro por audaciosamente sair dos trilhos da normalidade e cometer um desatino qualquer.

O que importa é que você saia do básico, do ramerrame costumeiro. Mude seu caminho, vá pelo beco, tenha vontade de sair por aí ao bel-prazer, em busca de uma abstração qualquer que dê conteúdo à sua vidinha. Não é conversinha de auto-ajuda não senhor! É parâmetro mesmo de bem estar. Sem vontade pra nada? Ou procura um profissional desses que investigam os interiores do freguês, ou então sua natureza moral está sendo rebaixada por alguma entidade opressora. Nesse caso, vá ao médium cardecista. Se não tem fé, o caminho é usar sua destreza na mão esquerda afetada por alguma lesão e pintar, escrever, desenhar garatujas sem aparente nexo, compor poemas de pés quebrados, imaginar formas para esculturas e improváveis vultos de barro ou papel machê, enfim, mostre que você está nesse mundinho para produzir seu próprio universo.

Viver por viver é a pior forma de sucumbir aos poucos. Uma pessoa que tem na cabeça dezoito mil libras de criatividade e sentido estético e jaz estática diante da infinidade de opções de busca da harmonia, não tem anistia. A menos que seja abatimento por problemas psíquicos. Fora isso, o negócio é “fazer belas confusões na existência”.

Aos sessenta anos, o coroa aqui ainda encontra entusiasmo e desfastio para começar novos projetos, fantasiosos quase todos, mas quimeras que se transformam em combustível para manter acesa a chama de la vida.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 09/08/2015
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