Uma recordação de meu pai

UMA RECORDAÇÃO DE MEU PAI
Miguel Carqueija

No próximo dia 25 de outubro completar-se-ão 40 anos da morte de meu pai, Armindo da Cruz Carqueija. Muito da sua recordação se perdeu nos meandros da memória, mas uma coisa ficou ainda bem nítida: as suas histórias, em alguma época que eu não vivi publicadas em jornais (até em Minas Gerais) e depois abandonadas. Ele não guardou nada, embora tivesse tentado ser escritor: e a única página sua que ficou foi um texto sobre o cachorro de casa, o Toy, no dia em que ele morreu.
Entretanto papai contou-me em serões as histórias que um dia escreveu e publicou em jornais. Uma delas, “O profeta”, tornou-o popular numa pequena cidade de Minas onde ele passou algum tempo, segundo me contou. Da sua narração oral eu consegui, já após sua morte, reproduzir, reescrever o texto; lógico que não ficou a mesma coisa. Cheguei a imprimir o conto refeito em mimeógrafo, décadas atrás.
Eram basicamente histórias humorísticas.
Por que ele abandonou a atividade de escritor, a ponto de sequer guardar os seus textos? Havia talento nos seus enredos, pois a própria narração oral divertia.
Mas talvez a resposta a essa questão não seja muito difícil. Escritores de grande envergadura, como Edgar Allan Poe, passaram a vida na amargura...
Se hoje eu soubesse em que anos exatos e em que jornais ele publicou, poderia até tentar localizar alguma coisa. Mas, nem as indicações papai deixou. Pelo que parece, ele assinava como Armindo Cruz – pelo menos isso ele me falou. Quem sabe, nos arquivos de algumas bibliotecas, haja matérias suas...

Rio de Janeiro, 8 de agosto de 2015.