TÔ DE SACO CHEIO - UM DESABAFO.

Quero deixar bem claro,que isto é um desabafo:estou de saco cheio !!!!

Acordei mal humorada sim,mas quem não acorda assim,depois de uma noite mal dormida,assediada por ansiedades,gripe e necessidades?

Quem consegue dormir direito,sabendo que suas dores físicas,estão lhe causando tiques e manias,piores em gravidade do que o que motivou sua dor primária e literalmente não consegue se controlar?

Quem consegue dormir em paz,quando percebe repentinamente,que viveu anos após anos de frustrações inconscientes,fazendo o jogo do contente?

Quem se alegra com a falta de sensibilidade e carinho das pessoas que lhe são próximas,que chegam sob a forma de indiferença ou contestações grosseiras?

Alguém aí na minha idade ainda não percebeu que amou pessoas erradas,beijou pouco,se decepcionou profissionalmente e até sexualmente e agora é tarde para remediar?

Tarde !!! De repente ficou tarde para iniciar quase tudo,menos para começar a aparecerem dores,doenças,arrependimentos e gente chata.

Tu não tens mais paciência para muitas coisas,mas em compensação,ninguém mais tem paciência para ti também.

Tô de saco cheio sim.De ter me calado ao invés de gritado meus amores;de ter gritado com meus desafetos,quando deveria ter me calado.

Tô de saco cheio de tudo que fiz pela tradição,família e propriedade e deixei de fazer por minha felicidade.

Tô de saco cheio dos medos e inseguranças que tive,das raivas que passei,quando deveria ter passado por cima delas como um caminhão sem freios.

Tô de saco cheio de amores mal direcionados,de amores mal recebidos e de amores negados.Tantos amores tumultuados que estou desaprendendo a amar,enquanto simultaneamente,aprendo a desapegar.

Tô de saco cheio de ter de ser gentil,de ter de me produzir para estar sempre bonita,coisas que a educação e polidez social exigem,enquanto minha educação,muito mais ampla,advinda de meus estudos e dos ensinamentos de meus pais e minha inteligência,que pululam,tem de se conter,porque não consigo mais argumentar com a arrogância e a ignorância.

Tô de saco cheio de falsos amigos e de maus profissionais.De gente que se finge boazinha demais,de comida as vezes de menos mas muitas vezes mais que demais.

Tô de saco cheio da minha falta de liberdade,mas por outro lado,o que faria agora com ela?

Passou,acabou...Se algo restou,juro que não foi a vontade.

Irrito-me com lembranças insistentes,pensamentos persistentes e ações tanto in, como convenientes.

Acho que o ideal seria um mergulho no escuro.

Não quero mais rumo nem prumo.

Quero quebrar as regras,violar as leis subentendidas de boa convivência.

Quero me bastar;quero ir te buscar;quero poder te largar...e quero poder voltar.

Quero hoje,que me procura o final de meu tempo nesta vida,apenas fazer o que sempre quis.

Quero tirar da boca este gosto amargo do não fazer,do não estar e do não ser.

O gosto maldito da segurança,que,sob outro ângulo,é em síntese uma prisão,e quem a ti, a mesma proporciona,são malditos carcereiros egoístas e hedonistas Será que me tratariam igual se eu fosse menos?Menos bela?Menos inteligente, menos rica ?Menos bem sucedida?Menos eu ?

Aqui todo o supérfluo e desnecessário abunda e disso também estou de saco cheio.

Saco literalmente cheio,daqueles que se exibem através de mim,roubam minhas idéias,mas distorcem meus valores,ignoram minhas vontades e precisões e ainda se dão ao luxo de se fazerem de surdos ou mudos quando conveniente,mas de cegos jamais.

Tô de saco cheio também de olhos que tudo veem,até quando não veem porque nada há para ser visto.

Saco cheio de minha covardia a esperar por um novo dia,em que eu seja,baste e me alegre e ao contrário da maioria,deixe de me fingir de cega e apenas siga a luz da alegria,na euforia de pela primeira vez,ser eu mesma.(eu)