LERFA MU, vestígios do homem primitivo
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Hoje em qualquer cidade, em muitos muros e paredes é possível ver sinais indecifráveis, muitas vezes feitos com tintas difíceis de ser removidas. Os desenhos e as pinturas feitas com arte e algum bom gosto, são chamados de grafite, uma arte reconhecida no meio artístico. Os rabiscos indecifráveis e aparentemente de mau gosto, mostrando somente uma intenção de borrar as paredes são chamados de pichação.
Estes atos de escrever e pintar paredes estão ligados aos arquétipos humanos, informações contidas no inconsciente, inscritas no DNA. Algo instalado no fundo da mente, sem sabermos precisamente quando se instalou, qual o momento da evolução humana aconteceu. Sinaliza o desejo do ser, em deixar suas marcas para que outros a vejam, com as mais diversas intenções..
A necessidade de um e de outro em obter e repassar informações, a herança informacional. Também acontece com professores e alunos. Colocam seus conhecimentos sobre a lousa para que outros como alunos, agora diante do mestre, assimilem, adquiram novas informações que produzirão novos conhecimentos. A velocidade do tempo concorre junto, hoje cada vez mais veloz a informação, a lousa evoluiu para o quadro branco que por sua vez vem sendo substituído pelo data show e Power Point.
Na década de 1970 no Rio de Janeiro surgiram nas paredes, uma dentre outras, as inscrições “Lerfa Mu”, que acreditava-se ser uma associação ao uso de drogas. “Lerfa Mu” disputava espaço com outra inscrição “Celacanto provoca maremoto” (JH 25/03/13), que suspeitavam ser uma mensagem alienista.
Começaram as escritas inscritas, com o uso de giz sobre quadros negros escolares, e em tapumes de obra, evoluíram para canetas tipo hidrocor, em azulejos de banheiros, depois passavam para o pincel atômico (pilot), em paredes internas, até que chegasse ao uso de spray, o top da pichação, em tecnologia e mídias externas com maiores resultados. Uma mídia alternativa, em paredes localizadas, nas principais vias públicas.
Outro midiático alternativo surgido no Rio de Janeiro foi o profeta Gentileza. Depois de uma das maiores fatalidades circenses (Niterói/RJ, 1961), saiu pelas ruas do Rio de Janeiro vestindo uma túnica branca, declamando e “pregando a palavra”. Segundo seu próprio relato (Wikipédia), teria ouvido vozes astrais que lhe disseram para abandonar a vida material e se dedicar a vida espiritual. Tal como acontecido com Antonio Conselheiro (1830 – 1897).
Gentileza como ficou conhecido José Datrino (1917 – 1996), escrevia pensamentos e reflexões, pelos muros, paredes e viadutos da cidade. Hoje alguns dos seus escritos são conservados e preservados pela prefeitura.
Uma empresa de transportes coletivos em Natal/RN também adotou as palavras do profeta Gentileza, como estratégia de RH em treinamento e capacitação. Primeiro a campanha foi adotada para os funcionários, na intenção de melhorar a relação entre rodoviários e passageiros. Por sugestão dos próprios funcionários a empresa estendeu
a campanha aos usuários colocando adesivos nos ônibus, com a máxima do profeta “Gentileza gera gentileza”.
Jornal de HOJE 21/04/15
Parnamirim/RN - 21/04/2013 Roberto Cardoso (Maracajá)
Cientista Social Jornalista Científico
Sócio Efetivo do IHGRN (Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte)