Somos filhos de nosso tempo.
Nenhuma novidade há nesta sentença que é lugar comum para historiadores e filósofos.
Carregamos em nossa bagagem íntima a realidade da época de nossa formação humana. Sou filho da década de 60,70, 80 e 90 do século 20.
Estas décadas foram marcadas pelo pós-guerra, pela suposição supersticiosa do fim eminente, pela violência e pelo carpe diem.
Como o suposto fim se aproximava – ameaça atômica ou como pregavam os fanáticos religiosos – conscientemente ou não os caminhos percorridos eram os vícios – cigarros, os mais inocentes; o álcool; as drogas, o sexo livre – surgimento da AIDS, movimentos sócio-políticos compromissados coletivamente e sem compromissos consigo mesmos – guerras e comunidades alternativa, e, finalmente, o fanatismo religioso.
Eram todos caminhos que levavam à loucura. Tiravam as pessoas do equilíbrio, do bom senso. Caminhos que todos de alguma forma percorriam sem saber, de sã consciência, a razão de se embrenharem por eles.
Eram os “malucos-belezas” de Raul Seixas, os soldados de Cristo de Billy Graham ou Neimar de Barros. Eram também os anti-ditaduras bem como os anti-comunistas. Todos buscando alguma ideologia para justificarem esta ideia do fim e do caos. Quem não se entregava a alguma destas paixões se entregava a certa frivolidade, apatia ou desdém de tudo.
Era o fim do século! Era o fim do milênio.
Morria-se de magreza e câncer por tanto fumar. Morria-se drogado. Morria-se de AIDS. Morria-se de guerra. Morria-se de tortura pela ditadura. Morria-se de pobreza. Morria-se por combater o comunismo. Morria-se por combater o capitalismo. Morria-se de tédio. Morria-se de fanatismo com suas diversas formas como as vítimas de Jim Jones ou como se morria por Jesus.
O século vinte acabou bem como suas formas românticas de morrer.
O século 21 nasceu. E as pessoas morrem, continuam morrendo, de pós-modernidade. É a gordura mórbida que mata – nunca se viu tantos obesos; morre-se também por falta de valores e princípios – nunca se viu uma geração tão desnorteada por causa de orientações sexuais, por tanta liberdade de ser e ter, por tanto achar supostas soluções para tudo...
É o ser humano um ente angustiado e neurótico!
Morria-se por tanto fim, morre-se agora por ser sem fim.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 20/07/2015.
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