Meu Pai Herói
O verdadeiro herói é aquele que faz o que pode. Os outros não o fazem.
Romain Rolland
Romain Rolland
Todo pai que é pai de verdade, é um herói para seu filho.
O meu foi um pouco mais herói do que os outros, uma vez que, mesmo sendo franzino, ao ver um homem boiando de bruços na linha da arrebentação, nadou até lá e trouxe o afogado até a praia. Sim, meu pai salvou uma vida e isso o faz um herói.
Para mim, porém, seu maior ato de heroísmo foi outro.
Logo que ingressei na faculdade, consegui um estágio na CEF e, com o salário, custeava os estudos.
Depois, passei num concurso público para um Ministério e, na sessão de pensionistas e aposentados, comecei a exercer o pior emprego da minha vida: responder as cartinhas lacrimosas dos velhinhos pedindo aumento em seus proventos por terem ouvido falar de alterações nas leis que poderiam beneficiá-los. Para meu terror, nunca eram extensíveis a eles e eu só negava os pedidos. Esse período marcou minha vida. Como meu curso na faculdade era de computação, acabei sendo transferida para o setor de informática. Foi quando surgiu uma outra oportunidade de estágio, o salário muito próximo ao que eu tinha no ministério e, para desespero da minha mãe, larguei o emprego público.
Ela tinha razão. Não deu certo. Assediada pelo chefe, acabei me demitindo e fui trabalhar numa escola de inglês, como auxiliar na secretaria. Talvez tenha me dedicado demais aos cartazes educacionais, extravasando minha criatividade com guache e pincel atômico, não sei. Sei que mister David julgou-me inadequada ao serviço.
Desempregada, não podia pagar a faculdade. A única saída seria trancar o curso até conseguir alguma outra fonte de renda.
Foi quando o meu pai, de capa e espada, montado no garboso cavalo branco da minha gratidão proferiu a frase que eu nunca vou esquecer:
- A gente passa fome, mas essa menina vai estudar.
É claro que a gente não passou fome. Abrimos mão de alguns pequenos luxos como os sorvetes, iogurtes e refrigerantes, já esparsos, mas a decisão dele foi um incentivo e tanto para mim. Logo em seguida consegui outro estágio e pude continuar o curso.
Acabei me formando aos dezenove anos de idade, graças ao meu pai, meu herói.
Feliz Dia dos Heróis, Pais!
Texto publicado no jornal Alô Brasília de hoje e reeditado do texto homônimo publicado neste Recanto das Letras em 30/06/2008.
O meu foi um pouco mais herói do que os outros, uma vez que, mesmo sendo franzino, ao ver um homem boiando de bruços na linha da arrebentação, nadou até lá e trouxe o afogado até a praia. Sim, meu pai salvou uma vida e isso o faz um herói.
Para mim, porém, seu maior ato de heroísmo foi outro.
Logo que ingressei na faculdade, consegui um estágio na CEF e, com o salário, custeava os estudos.
Depois, passei num concurso público para um Ministério e, na sessão de pensionistas e aposentados, comecei a exercer o pior emprego da minha vida: responder as cartinhas lacrimosas dos velhinhos pedindo aumento em seus proventos por terem ouvido falar de alterações nas leis que poderiam beneficiá-los. Para meu terror, nunca eram extensíveis a eles e eu só negava os pedidos. Esse período marcou minha vida. Como meu curso na faculdade era de computação, acabei sendo transferida para o setor de informática. Foi quando surgiu uma outra oportunidade de estágio, o salário muito próximo ao que eu tinha no ministério e, para desespero da minha mãe, larguei o emprego público.
Ela tinha razão. Não deu certo. Assediada pelo chefe, acabei me demitindo e fui trabalhar numa escola de inglês, como auxiliar na secretaria. Talvez tenha me dedicado demais aos cartazes educacionais, extravasando minha criatividade com guache e pincel atômico, não sei. Sei que mister David julgou-me inadequada ao serviço.
Desempregada, não podia pagar a faculdade. A única saída seria trancar o curso até conseguir alguma outra fonte de renda.
Foi quando o meu pai, de capa e espada, montado no garboso cavalo branco da minha gratidão proferiu a frase que eu nunca vou esquecer:
- A gente passa fome, mas essa menina vai estudar.
É claro que a gente não passou fome. Abrimos mão de alguns pequenos luxos como os sorvetes, iogurtes e refrigerantes, já esparsos, mas a decisão dele foi um incentivo e tanto para mim. Logo em seguida consegui outro estágio e pude continuar o curso.
Acabei me formando aos dezenove anos de idade, graças ao meu pai, meu herói.
Feliz Dia dos Heróis, Pais!
Texto publicado no jornal Alô Brasília de hoje e reeditado do texto homônimo publicado neste Recanto das Letras em 30/06/2008.