O PIANO

Era no tempo romântico que apelidaram de anos dourados. Um boiadeiro rico gostou de uma moça fina da sociedade recifense. Essa moça estudara em colégios de freiras, falava francês. lia romances, era mesmo fina e educada. Mas achou de simpatizar de cara com o boiadeiro rico, adorou seu jeitão despachado e seu jeito aventureiro. Claro que não era o príncipe dos seus sonhos, tipo Rodolfo Valentino, no Sheik, mas estava com 25 aninhos, metade de cinquentinha, e sua família metida a nurguesa n~~ao aceitava os pobres pretendentes que apareciam no seu pedaço. Namorou, noivou e casou com o boiadeiro e foi morar numa cidadezinha do sertão pernambucano. Pelo menos o boiadeiro não levou-a para morar na cssa grande da fazenda, ficou no seu palacete da cidadezinha.

De início ela até gostou de bancar a sinhazinha, adulada, servida e cortejada por várias empregadas e uma moleca de recados. Não levantava um dedo em casa, era como uma rainha. Mas com o passar do tempo foi se entediando. Se pelo menos engravidasse teria o filho para preencher seu tempo, mas nem isso, até achava que era problema seu porque o boiadeiro, diziam, tinha filhos com outras mulheres. Mas aí... Bom, aí apareceu a distração. Ela aprendera mais ou menos a tocar piano com as freiras, sentiu vontade de voltar a praticar essa arte. Um dia conversando com o marido reveleou esse desejo. Ele não deve dúvidas, mandou comprar um piano no Recife e, mais do que isso, mandou vir da capital um afinador de pianos que era também professor de piano para passar uma temporada na cidade e afinar o piano da mulher e atualiá-la na arte. Chegou o piano e o professor/afinador. O piano foi para a casa do boiadeiro e o professor ficou hospedado no melhor hotel da cidade. Era um sujeito alto, louro, cabelos caindo na testa, olhos verdes, educadíssimo, uma espécie de príncipe que emergira das páginas de um romance, uma esp´´ecie de Sheik. Assim que foram apresentados ela corou e ele também, houve a mesma eletricidade havida entre o dentista e Dona Sinhazinha no livro de Jorge Amado, Gabriela.

Ele vinha à tarde afiar o piano e tocar algumas músicas para ela. Depois de afinado o piano, passou a ensinar-lhe algumas musicas. Um dia tocando juntos o Bolerto de Ravel, ele tocou na mão dela, estremeceram... Mas fingiram não sentir nada, mas sabiam que não demoraria a evoluir a paixão mútua. Aconteceu no outro dia, quando ele mandou a moleca comprar um maço de cigarros, começaram a tocaer a musica "Fascinação", em dado momento se abraçaram e se beijaram com sofreguidão. Sem nada dizer, nem precisava, ficaram íntimos. Dos beijos e amassos terminaram na cama do boiadeiro. A moleca conivente ficava de vigia.

Mas a vida é feita de surpresas e os sonhos não duram para sempre. Um dia a moleca resolveu dar uma saidinha, foi namoricar com o vendedor de picolé na esquina. Não viou que o boiadeiro estgava chegando em casa, viera pegar umdocumento de ma fazenda, e aí nao vendo ninguém na sala foi ao quarto e viu os dois nus em pélo fazendo a maior festa na cama de casal que fora dos seus pais. Não desesperou, apenas foi no birô,, abriu a gaveta, tirou o revólver 38 e matou os dois sem nenhum tipo de pena. Fez o que faria seu pai e qualquer homem de bem. Incontinenti chamou a polícia, depois mandou levar os corpos da sua casa, nem foi preso, era o dono da cidade. Algum tempo depois num simulacro de juri, depois do discurso de um grande advogado vindo da capital, foi absolvido. O advogado justificou o crime como legítima defesa da honra. E periu.

Nota: esta crônica foi baseada num miniconto extgtraordinário da grande escritorta Marina Alves.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 06/08/2015
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