PERDER O REI NEM SEMPRE É RUIM

Adoro ver a vida como um jogo de xadrez. Tudo começa com as mesmas peças. É assim que nascemos, podemos ser brancas ou negras, isso não fará de fato nenhuma diferença. Nossos passos iniciais serão sem grandes pretensões, não dando qualquer dica do que pretendemos de fato. Não, conhecemos, tampouco, quem é o nosso "adversário", suas capacidades, intenções, se é ousado ou reativo, se fará "jogadas" estratégicas ou simplesmente moverá suas peças. Ele poderá ser até maquiavélico, se passando por babaca só pra gente baixar a guarda e poder nos esmigalhar peça após peça. Estamos "vendo" o "inimigo" mas, de fato, não conseguimos enxergar nada dele de fato - exatamente como ocorre no palco da vida. Por mais que teimarmos em afirmar que sabemos quem temos "do outro lado da mesa", na verdade não sabemos porcaria nenhuma. Isso vale para esposa, marido, filhos, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, enfim, todos estas "peças" poderão nos surpreender a qualquer instante, mostrando um lado do qual não fazíamos a menor ideia - exemplo: numa eventual separação, na briga mais forte com os filhotes, numa situação mais tensa com o colega de serviço no qual o nosso cargo (ou o dele) será colocado a prêmio...Existem "peças" ou armas que parecem não valerem muito, como os peões, mais que poderão virar o jogo, virar a rainha! Quantas vezes menosprezamos alguns detalhes nas pessoas, não damos de fato a menor bola, e são justamente dessas minúsculas coisas que virá o ouro no momento oportuno. Como no xadrez, não podemos descuidar um milésimo de segundo sequer do nosso tabuleiro, senão podemos perder guerreiros bravos, já que o oponente está de olho em cada movimento que fizermos - ou deixarmos de fazer. Enquanto durar a partida, nada estará permanente ganho ou derradeiramente perdido. A diferença é a nossa capacidade de "entender" o jogo, com ou sem otimismo, com ou sem garra, com ou sem vontade de fazer o adversário virar pó. Podemos levar a coisa a sério ou achar que não passa "de um jogo qualquer", sendo absolutamente nada além disso. Se mergulharmos fundo na coisa e formos capazes de fazer dela o que temos de mais vital naqueles minutos da partida, extrairemos do embate preciosas lições que revelarão muito do que somos de fato fora dos limites do tabuleiro. Este é o barato de jogar xadrez, que traduz nossos medos, inseguranças, trunfos, capacidades, se arriscamos ou ficamos só respondendo aos ataques que recebemos, se somos cruéis ou paternalistas, se conseguimos pensar lá pra frente ou o nosso mundo está demarcado pelo o que rola no momento e nada mais. Muitas vezes perder o rei não representará somente a perda da partida. Poderá traduzir que quebramos a cara numa vez mas, na outra, daremos o troco. Foi preciso sacrificar um "rei" para, no capítulo seguinte, darmos a reviravolta triunfal. Se não tivéssemos "perdido" o que tínhamos de maior valor, nunca teríamos o fôlego, desenvoltura e talento para "chegar lá". Nunca mesmo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 06/08/2015
Reeditado em 06/08/2015
Código do texto: T5336418
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