Cãominhando a luz da lua

Tem um céu estrelado e uma lua minguante lá em cima, cá embaixo vou eu, meu fone, meu cachorro e a cidade. A luz da lua mostra a trilha ao cão, a música dita o caminho para mim. Faz frio, a brisa sopra na pele e trás uma sensação de nostalgia, meu amigo de quatro patas não se abala muito com isso, o importante para ele é cheirar postes e, de acordo com algum desígnio espiritual, mijar ou não neles, quando o indicativo transcendental é regar o poste, logo em seguida ele joga terra por cima, caso eu continue a andar ele me força a parar até concluir seus trabalhos, é um bicho metódico, despeja sua marca sobre o mundo e depois a máscara, sistema criptográfico canino, quem diria...

Um rapaz declama versos e dedilha o violão dentro de minha cabeça, boas rimas faz esse rapaz, belos acordes soam de seu instrumento... Me perco olhando para a lua e pensando em sua solidão, as estrelas ao menos tem irmãs, a lua é tão só... Mas deixo esse devaneio para lá, a lua pertence aos poetas e aos amantes, se bem que depois de trair a Joelma a reputação dela está em baixa com os últimos.

Imagino como seria passear com o cão na lua, acho que se o problema da gravidade fosse resolvido seria um belo passeio, as estrelas ali ao lado, a terra vista lá de cima... O cão não sei se iria gostar, pelo que me consta não existem postes na lua, e estando lá pra quem ele uivaria quando seu instinto de lobo emergisse? Acho que o sol não é lá muito fã desses mijadores peludos. O cão não se preocupa com essas abstrações, ao que me concerne o cão é um bicho muito centrado e objetivo, olha, lá vai ele praticar suas liturgias em outro poste. E lá vou eu, meu fone e a cidade caminhando ao ritmo do cão. Deus nos ajude.