Desalinho

Quando soube que Nietzsche, o filósofo alemão disse: “Deus está morto!”, pensei... coitado!

Na vida nada vem de graça ou fora de hora: quando tudo parece claro, surge o escuro, quando tudo parece perdido é que nos encontramos.

Sempre me vi como um deus, alguém que jamais seria abatido em qualquer situação. Porém bastou uma dúzia de palavra para que eu desmoronasse feito bolha de sabão. Isto aconteceu quando o meu médico leu para mim o diagnóstico que estava grafado no rodapé da página que estava em suas mãos: “você vai ter que fazer uma biópsia”. Dentro de mim iniciou-se uma batalha campal onde cavaleiro e cavalo, não se entendiam. Fiquei contando as horas e me perguntando: até quando vou me suportar? Esta foi uma indagação tão complexa quanto obtusa para o meu dilacerante raciocínio medieval. Isto fez com que a solidão de minha alma ficasse fora do meu controle. Algo estranho e cavernoso. Foi como se eu não reconhecesse a minha própria carne, esta que agora me surge quase como um entulho - podre – disforme, ainda que eu tenha recebido apenas um simples alerta.

De tudo isto constatei que prefiro ver e sofrer a não ver e não sofrer. Contudo equação está mais para esquizofrênico do que para matemático de botequim de ponta de rua de cidades onde bêbados se reúnem em praça pública, para discutirem a salvação do mundo. Nada disto me fez encaixar as peças do dominó que está na minha cabeça. Penso que as elas, do um modo geral, são de uma incoerência abismal. É assim que me encontro nesta encruzilhada onde só tenho uma direção a seguir. Todas as outras me são falsas e perigosas.

Quando entrei em isolamento profundo; aquele onde nenhum outro pensamento pode estar, foi que alcancei o que Nietzsche profetizou em seu livro - O Anticristo. Naquele momento surreal senti que Deus me acolheu com mais esta surpresa para que eu entendesse que cada criatura depende única e exclusivamente de si mesma. Só assim seremos capazes de resolver nossos problemas internos e nossas ranhuras adjacentes. A experiência com o sofrimento me marcou profundamente, foi como se eu engolisse um punhado de brasas de madeira de lei, de um só golpe.

__ Ah, que coisa fantástica!... acabo de me lembrar de uma amiga que sempre me fala: “comigo não pica-pau, aqui é aroeira”.

Finalmente... é na luta que se conhece o forte, mas também é na dor que os sentimentos puros afloram. Todos nós temos as nossas angústias e, com certeza, elas são sempre maiores que as dos outros. Hoje mais do que nunca tenho a certeza de que para vencermos os nossos medos temos que vencer a nós mesmos todos os dias. Esta luta é desigual, os meus monstros, aqueles que construí com minhas próprias convicções, são capazes de me derrotarem e me devorarem em questão de segundos, para que isto não aconteça, foi que Nietzsche nos alertou dizendo que Deus está morto. Sejamos o nosso deus para que Deus possa cuidar de todos nós com a mesma intensidade.

Devo dizer ainda: muitos me examinaram, mas apenas Um me viu.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 19/06/2007
Reeditado em 05/10/2017
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