A MESSE DA CONFRATERNIDADE

O vetusto chalé de madeira e o entorno espiritual inspirador que reinava e promanava dele, tiveram importante presença em minha humilde obra, mercê do largo espectro de nossas preocupações humanas e estéticas. Os meus hóspedes alter egos sempre se divertiram pachorrentamente com o pátio traseiro de longas leituras entre frutas nos galhos, flores, cachorros, gatos e pássaros, em que a natureza exuberante e naturalíssima auspiciava gnomos e duendes frutificados pela criatividade do verso e da narrativa curta. Espraiar-se à larga messe de confraternidades e deixar as musas fazerem suas estripulias lúdico-amorosas sempre foi muito prazeroso. Nesse contexto tão generoso e único, a congeminação de inúmeras preocupações sociais interligadas urdiram inúmeros poemas, durando várias horas de introspecção, mormente no esforço de transpiração sobre o primeiro momento intuitivo de criação. Muitos destes poemas e prosas estão perviventes nos livros editados ou não que me contemplam como escriba. A presença de Cecília Bothona, ouvinte em primeira mão e perquiridora poeta-leitora, estimulava por demais o ato solitário de criar, com seus pensares em voz alta e indagações sobre as eventuais temáticas. Nos escaldantes verões, muitos sucos geladinhos, bocas ávidas, no leito das redes estendidas no caule das laranjeiras e pereiras. E a prosa corria solta tal as enceradas e coloridas pandorgas no céu de brigadeiro. Ganhamos todos pelo entorno lúdico e o legado dos signos aprisionados e libertos pela leitura – e quem tem a agradecer sou eu. O transcurso da vida assim é muito mais fácil e gozoso. A dimensão humana necessita de caminhos simples no fio de viver. E de companhias agradáveis para o passeio rico em argumentos, todavia sem volta...

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2013/15.

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