Viagem a Rio Negrinho- Parte I

A gerência de Compras me chamou no final da tarde, e me comunicou; " Precisamos que vá para Curitiba, depois de amanhã , o comprador de madeiras é o Éviton, mas ele está novo na função e precisará da ajuda de alguém mais experiente, e gostaríamos que fosse junto, a secretária providenciará as passagens. Quando chegarem lá, haverá uma pessoa os aguardando no aeroporto, (me passando o nome num papel), é de uma fazenda de reflorestamento, que os levará de carro até o destino, está bem ? Precisamos reduzir os custos nessa linha, pois o comprador anterior saiu por má conduta, você sabe , e precisamos buscar novos parceiros comerciais com urgência, e acreditamos que lá existe uma boa oportunidade ".

Reorganizei a minha agenda , às pressas , da melhor maneira, e em casa comuniquei a minha esposa sem qualquer alarde, pois estas missões ocorriam às vezes, e sabíamos que eram parte da profissão. Apesar de saber que a linha era do colega, percebi que a tarefa na verdade era minha, e procurei saber ao máximo possível sobre o assunto antes do embarque, e assim me preparar como era do meu costume, nunca fui despreparado para uma mesa de negociação. Fui pensando sobre as possíveis perguntas, coletando dados, valores, tipos de aparas, e madeiras , me concentrando nas que eram mais importantes para nós, pois não se jogam dados à sorte.

Chegando a "Congonhas" encontrei o Éviton no horário e local combinado, um jovem comprador formado em finanças,mas ainda sem experiência comercial, e da minha parte , eu já tinha quatro anos na função, o que representava algo consistente, conhecendo bem mercado e logística, o que já me credenciava aos olhos do gerente da área.

Desembarcando em Curitiba, encontramos o tal sujeito com a placa na mão, era um homem já maduro e falante, com uma cara inchada de quem tinha passado a noite bebendo. Ele se apresentou sorrindo, e nos levou com o carro da firma numa viagem que parecia não ter fim, por entre araucárias, e nos duzentos quilômetros de estrada , perdi a conta de quantos "puns" ele já havia soltado, aquela viagem estava de amargar, eu abria um pouco o vidro e punha o "focinho" para fora, apesar do frio do sul, próprio do mês de agosto, mas era preferível congelar as narinas do que morrer empesteado, e o sujeito tagarelava sem parecer notar, como se da cintura para baixo o corpo não fosse dele , ou já houvesse perdido o olfato .Eu, no carona, e o meu parceiro no banco de trás, então as perguntas rolavam na minha direção, e eu respondia travando o maxilar e prendendo a respiração ao máximo, torcendo para que aquela tortura acabasse logo.

PS; Esta história é um pouco longa, e a contarei em três partes. Trata-se de um bom trabalho que fizemos no ano de 96, no Centro Empresarial, para a "Ford ", mas para mim o que ficou mesmo foram as lembranças , ainda muito vivas, que quando se concluem deixam de ser missões profissionais, para fazerem parte da minha vida.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 04/08/2015
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