VOAR E VIVER
Lembro-me de que quando voei pela primeira vez, ao decolar, tive uma sensação de vazio por dentro, como se tivesse soltado tudo o que me segurava à terra de repente; todos os medos, apegos, raízes. Pensei, enquanto olhava pela janelinha do avião e via a terra ficando pequenininha: “Estou no ar! Estou totalmente dependurada no ar, e ninguém, a não ser as leis da física, estão me segurando! Como pode, algo tão pesado, pairando desse jeito?”
Algumas pessoas podem dizer que é Deus quem está segurando o avião, e talvez seja mesmo; porém, se pensarmos um pouquinho, saberemos que mesmo que Deus segure o avião no ar -com a ajuda e a habilidade dos pilotos - se houver uma falha mecânica ou humana, ele despenca. Acidentes de avião acontecem quase todos os dias, e a maioria deles é fatal para todos os ocupantes. Mas, mesmo sabendo disso, nós voamos. Despachamos nossas bagagens e entramos no avião como se fosse a coisa mais normal do mundo, e não sabemos se decolaremos e pousaremos de maneira segura. Confiamos no piloto. Confiamos na mecânica e na física. Confiamos na nossa boa estrela.
Confiamos em Deus.
Mas os aviões caem, e às vezes, com pessoas que amamos dentro deles, ou quem sabe, conosco.
Viver é como voar: não sabemos o que nos espera, e por isso, contamos com a fé na vida, tentando acreditar que tudo ficará bem. Vivemos e voamos, pois ficar parados, com medo do que possa acontecer, não leva a lugar nenhum. A única chance que temos de chegar a algum lugar, é nos arriscarmos a entrar no avião, e fazer planos para um futuro que não sabemos se teremos, e mesmo conscientes de que um dia tudo termina, agirmos com a fé de quem flutua na eternidade.