Reinventar o Brasil

Agradeço a parceria de três amigos meus... o André Nascimento, o Luizinho Martins e o Bruno Franco, com suas idéias e apontamentos. Muito obrigado!

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Existia um tempo em que muitos aspiravam a um mundo mais igual, mais fraterno e digno. Entre discursos e escritos, muitos poetas, teóricos, líderes políticos e intelectuais se debruçavam em debates, artigos, comícios, passeatas e nas tribunas. Todos eles procuravam, nas mais diferentes fórmulas e propostas, uma sociedade justa e condigna, onde as oportunidades fossem iguais para todos. Jovens, idosos, crianças, homens, mulheres...

Por outro lado, nessa mesma época, havia gente de diversas crenças e concepções distintas de vida, ansiando por mundo mais justo. Dentro dos seus grêmios estudantis, centros acadêmicos, sindicatos, associações de bairros e clubes, ou numa mesinha de bar, muita gente se unia em torno de uma causa comum. Queriam felicidade. Respiravam a idéia de igualdade e de democracia.

Um por um, independente da sua idade, etnia ou qualquer outra identidade, achava possível mudar o cotidiano.

Lutavam por um país mais igual.

Queriam construir o Brasil!

Um país que promovesse oportunidade a todos. O filho do analfabeto ter a igual oportunidade e condição que um filho de um reconhecido Reitor, podendo, mais tarde, ser um formulador teórico ou um cientista capaz de contribuir para o Brasil.

E dentre essa multidão de transformadores e transformadoras, encontravam-se milhões de jovens. Jovens... Sonhadores e carregados de um ideal! Viviam o amor e o dia-a-dia agitado, como qualquer outro. Não satisfeitos, queriam mais. Muito mais! Mais educação de qualidade! Mais saúde digna! Mais emprego e estabilidade! Mais participação política para decidir os rumos do Brasil.

No entanto, o golpe calou. Pior: amordaçou os nossos jovens.

O sonho tornou-se algo anacrônico e ultrapassado aos novos “donos” do poder vigente. Aliás, não era permitido sonhar! Sonhar significava “subverter” o sistema. Era aceitar a visão de mundo imposta. Senão...

Aumentaram a concentração de renda e diminuíram as oportunidades para os jovens – em especial, o filho do trabalhador assalariado, da mãe solteira sem renda, do pedreiro, do funcionário público, do trabalhador informal. Poucos puderam, de fato, ascender socialmente. Raros exemplos puderam ter a mesma chance, a mesma oportunidade e os mesmos sonhos da elite, ao conseguir obter suas metas com facilidade.

Os jovens desse período, com a sua voz sufocada, sequer tiveram tempo para sonhar por um mundo melhor. Para poder sonhar, era preciso falar. Aliás, falar já era o próprio sonho. No entanto, ele era sistematicamente tolhido.

Tiveram de mudar a sua agenda...

Lutaram arduamente pelo direito de falar. A ponto de alguns pagarem com a própria vida; fora o exílio de outros. Pelo direito de se expressar. De escolher, inclusive, os que poderiam defender os seus interesses no Poder Executivo e Legislativo.

Jovens, muitos jovens, nas trincheiras da legalidade, ainda que, em reuniões e ações clandestinas. A UNE, junto com outras entidades, encamparam à frente o sonho de uma Pátria Livre e de uma democracia genuína.

- Liberdade, liberdade... Democracia! Eleições já! Fora a Ditadura!

Jovens... Todos eles, um por um, se irmanaram em torno dessa luta.

Conseguiram, enfim. A democracia chegou.

Hora não só de falar, de se expressar. Mas também de sonhar e agir para fazer do sonho uma realidade.

Todavia, já não tinham mais o que sonhar. Ué... Pensavam os jovens. Pra que sonhar, se eu já tenho o direito de falar. Posso até não ter dinheiro, emprego, saúde, mas vejo a TV e sou “bem informado”. Tenho entretenimento, com “as preparadas” e o BBB.

Mais! Tenho nos domingos a opção entre o Gugu e o Faustão!

- Viva a liberdade!!!!!

No entanto, a mídia anestesiou os jovens, fazendo deles passivos e acríticos. Ela ajudou decisivamente à juventude perder o seu idealismo e a sua identidade. A juventude valorizada por um lado pelo seu arrojo, força e vitalidade, promovida pela mídia para incentivar o consumo. Todavia, quando os mesmos jovens usam a sua força para um mundo melhor, são rotulados pela mídia e por muita gente como irresponsáveis, inconseqüentes e imaturos.

O conformismo tomou conta das relações interpessoais. A busca da prosperidade individual e o consumismo desenfreado tornam-se o único sonho possível. A juventude precisa repensar, lembrando como os jovens de ontem lutaram:

"Existia um tempo em que muitos aspiravam a um mundo mais igual, mais fraterno e digno. Entre discursos e escritos, muitos poetas, teóricos, líderes políticos e intelectuais se debruçavam em debates, artigos, comícios, passeatas e nas tribunas. Todos eles procuravam, nas mais diferentes fórmulas e propostas, uma sociedade justa e condigna, onde as oportunidades fossem iguais para todos. Jovens, idosos, crianças, homens, mulheres..."

Nos falta solidariedade!

Queremos um Brasil novo. Nem que para isso, possamos RECONSTRUIR, ainda que árdua e lentamente.

Contudo, uma construção sólida! Uma sociedade digna!

É possível, sim! Sonhar! Lutar pelo que é nosso ou por aquilo que tanto queremos! Melhor ainda: caminharmos juntos, lutando cada um de nós pelo futuro de todos!

Caminharmos onde Darcy Ribeiro sonhou por uma universidade livre, revolucionária; que reinventa sua história e aponta rumos para um novo Brasil!

Caminharmos na defesa da inclusão e da justiça social.

Basta querermos e fazer do impossível algo a ser feito, na busca por um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário, mais igual!

Nossos filhos, enfim, não fugirão à luta!

No movimento estudantil, nas ruas, nas praças... Onde quiserem atender a sua vocação de luta e de amor ao Brasil e aos seus irmãos.

Como disse o saudoso Paulo Freire, “a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam!” Da cabeça, vem a bandeira que norteia a nossa voz. E é com ela que daremos o nosso grito!

Um só grito de guerra! Um lema que urge na mente e nos corações dos que ousam e querem mudar a realidade! Sobretudo, para aqueles que precisam. Mais ainda: Aos que sequer conseguem ler cada frase dessa crônica.

Um grito de liberdade em todos os rincões e cantos do nosso Brasil!

Um grito que desperte não apenas a nossa indignação, mas a vontade de manter acesa e viva a nossa esperança, presente em canções, discursos e atitudes.

Um grito que se resume a poucas, mas expressivas palavras:

VAMOS REINVENTAR O BRASIL!