ENTÃO DESCOBRI O UNIVERSO

Mamãe ganhou uma bola de vidro dentro uma mini cidade em resina mergulhada na água como se fosse um lago. Pronto criou-se um conflito e eu não conseguia entender como o rio Guaíba e Porto Alegre eram tão diferentes.

Na frente de casa olhei para o céu e vi aquela enorme abóboda azul com umas nuvens brancas. Pobre mamãe tentando explicar-me que não havia limite, que os céus transcendiam a abóboda imaginária.

No outro dia, outro e mais outro minha mente fervilhou e não parou mais, tudo era motivo de indagação de querer saber e assim fui parar na escola com cinco anos, na escola da igreja católica e eu pensava ganhar um tablete.

Aos oito anos pensei que chegara o momento do tão sonhado tablete e papai deu-me uma enxada, o outro dia uma pá e assim passei por serrotes, martelos até chegar na colher, colher de pedreiro, enquanto os jovens na França empunhavam bandeiras, coquetéis, máscaras e quebravam tudo e punham fogo eu empunhava a colher. Primeiro vieram os cantos, prumo que na época era plumo, mangueira de bater nível, linha de nylon, pela manhã de um a dois metros quadrados, pela tarde a escola, quando dei-me por conta as paredes estavam no ponto.

Eletricidade, madeira e tudo mais, menos o tablete.

Um dia troquei colheres, pás, enxadas e tudo mais por fuzis, revolveres, metralhadoras e pistolas, mas gostava mais de um cabo de pá que camuflava uma .12 num saco de ração para animais e servia para amedrontar a bandidagem.

As ruas encardiram e então chegou a vez dos tabletes, por quase vinte anos as mãos que aprenderam a lidar com enxadas, colheres de pedreiros e armas então passaram a lidar com teclas e mouses.

Hoje se quisesse teria dezenas de tabletes.

Qualquer inteligência mediana pode ter seu tablete na idade certa.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 02/08/2015
Reeditado em 02/08/2015
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