DESMAMAR DO CASULO
Você tem uma verdade que mal sabe respirar.
Por vezes ela estará repleta de inverdades.
Nesta tosca e maltrapilha forma, será manca,
tentando tatear um chão que não existe,
tentando dizer "tô aqui" quando de fato está a léguas deste lugar.
Verdade farsante, encardida de senões e poréns,
vivendo uma puberdade que nunca descansa.
É possível que tente driblar suas regras com maestria exemplar.
É possível que faça todo esforço do mundo para não se mostrar
refém de si mesma, em vão.
Como é uma verdade de festim,
fara a côrte para seus súditos se achando poderosa.
Apesar de ter vindo para acudir os pensamentos,
esta verdade com jeito de dama de cabaré
ficará toda hora retocando sua maquiagem e testando
o som, sem nunca desfazer um nó, por mais
mindinho que seja.
Talvez você tente enrolá-la, seduzindo seus guizos
com aquele canto de sereia que é só seu.
Talvez você teime em trocar suas fraldas já sujas
e fedidas achando que assim estaria retornando
ao tom original;
Nada disso.
A sua verdade sem raiz nunca conseguirá sair
das escamas do medo.
Por mais que insista em querer
entrar, por mais que teime em ir até o fim do jogo,
ela morrerá na praia, só e seca com todos seus
guizos de fé.
Assim, desatado de sombras, você se verá liberto
e feliz,
saltitante como uma alguém que acabou
de se desmamar do casulo.
Nesta hora a outra verdade subirá ao palco,
declamará sua sentença de alforria e
sumirá para nunca mais dar as caras
por estas bandas. Nunca mais mesmo.
Então, tomara, você se terá com uma verdade só,
sem eco nem rebarba.
Não precisará mais esconder o áspero da própria ressaca,
nem tirar o pó da alma ou, quem sabe,
fingir que é calor quando todo seu esqueleto
se escorre numa neve só.
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