DESMAMAR DO CASULO

Você tem uma verdade que mal sabe respirar.

Por vezes ela estará repleta de inverdades.

Nesta tosca e maltrapilha forma, será manca,

tentando tatear um chão que não existe,

tentando dizer "tô aqui" quando de fato está a léguas deste lugar.

Verdade farsante, encardida de senões e poréns,

vivendo uma puberdade que nunca descansa.

É possível que tente driblar suas regras com maestria exemplar.

É possível que faça todo esforço do mundo para não se mostrar

refém de si mesma, em vão.

Como é uma verdade de festim,

fara a côrte para seus súditos se achando poderosa.

Apesar de ter vindo para acudir os pensamentos,

esta verdade com jeito de dama de cabaré

ficará toda hora retocando sua maquiagem e testando

o som, sem nunca desfazer um nó, por mais

mindinho que seja.

Talvez você tente enrolá-la, seduzindo seus guizos

com aquele canto de sereia que é só seu.

Talvez você teime em trocar suas fraldas já sujas

e fedidas achando que assim estaria retornando

ao tom original;

Nada disso.

A sua verdade sem raiz nunca conseguirá sair

das escamas do medo.

Por mais que insista em querer

entrar, por mais que teime em ir até o fim do jogo,

ela morrerá na praia, só e seca com todos seus

guizos de fé.

Assim, desatado de sombras, você se verá liberto

e feliz,

saltitante como uma alguém que acabou

de se desmamar do casulo.

Nesta hora a outra verdade subirá ao palco,

declamará sua sentença de alforria e

sumirá para nunca mais dar as caras

por estas bandas. Nunca mais mesmo.

Então, tomara, você se terá com uma verdade só,

sem eco nem rebarba.

Não precisará mais esconder o áspero da própria ressaca,

nem tirar o pó da alma ou, quem sabe,

fingir que é calor quando todo seu esqueleto

se escorre numa neve só.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 02/08/2015
Reeditado em 02/08/2015
Código do texto: T5331928
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