Noites de sábado
Todos têm histórias para contar. Alegrias, tristezas, solidão, rancor, amor. Os sentimentos se escondem sob a superficialidade das aparências. Sorrisos complacentes, olhares perdidos, lágrimas reprimidas, lembranças vazias. Mais uma noite de um sábado qualquer está apenas começando. Não importa se a lua cobre o céu com seu véu de noiva ou se a chuva lava as almas perdidas nas esquinas esquecidas. Os sábados são todos iguais. As histórias se cruzam, misturam, repelem, em um vai e vem em uma busca sem fim por outras histórias para serem contadas, recontadas e refeitas.
O violão, outrora mais um objeto guardado no canto de um quarto qualquer, agora ganha vida para cantar histórias. Ele deixa a capa preta e revela suas curvas esbeltas de madeira. As cordas, ainda frias, se afinam para dar vida a vários Chicos Buarque, Cássias Eller, Renatos Russo e Cazuzas. Mesmo mudas, as combinações perfeitas das melodias se desprendem do objeto e penetram nos corações das histórias. Elas têm o poder de mudar por inteiro o destino de contos e crônicas.
As histórias acontecem entre cigarros e álcool, nas mesas dos bares e botequins, nas calçadas e restaurantes, por toda parte. Algumas começam a ser escritas, outras nunca terão uma linha sequer. Capítulos inteiros são construídos e desconstruídos com a solidez de uma pluma. Também existem aquelas histórias que nunca deveriam começar ou terminar. Mas a noite tem pressa.
Quando, finalmente, os acordes se calam, o violão rouco volta à casa e as mesas ficam quase vazias, restam apenas a caneta cansada e sem tinta da vida, o silêncio dos bêbados incompreendidos e os pedaços das páginas rasgadas, pisoteadas e sujas de cerveja.