Delação premiada

Fabricara uma tese perfeita. Quanto mais roubava e lavava seu papel místico, mais estaria perto de Deus, menos próximo aos populares, sem doenças e sem pisar o chão com seus calcanhares. Inutilmente, foi processado pela Turma de Superior Tribunal. No dia do julgamento ofereceu um sorriso transcendental, escovou seus dentes com champagne e sem pasta dental. E os outros tantos que viviam dos seus soldos? De suas subsistências ? Quem ganhava muito ganhava subsídios do Governo, cartões corporativos do mesmo, churrascarias onde falavam de futebol e bochechas rosadas. Aqueles artistas debochados e aparentemente ridículos não existem mais. Eles se contentaram talvez com a Lei Rouanet. A oposição dos petroleiros e dos metroviários não mais existia. Quem estava mais insatisfeito era quem dependia de si mesmo: os taxistas, os vendedores, os empreendedores, os estagiários.

Voltando ao delator – Ele estava estampado na capa de revistas por um motivo célebre, era gatuno à moda antiga, sua frase preferida – Me ajude que eu te ajudo. Recebeu propina de duas gerações de políticos, consultores, advogados, investigadores e supervisores. Sua fama já alcançara o exterior, porque ele investiu ações na Federação de Futebol, em bancos multinacionais na Suiça. Ele falava o idioma universal – a verba: a verba de gabinete, a verba indenizatória, a verba de auxílio e a de alimentação e transporte. Enfim, uma delação premiada, após o recebimento de todas as verbas indevidas, o salvou da cela coletiva, o deixou imune à Justiça, repatriou seus bens para dispo-los nas páginas de vendas como algo novo saído de loja. Ele estava disposto a se redimir e a se restabelecer dos erros. Por isso abriu uma Lotérica dentro do supermercado mais movimentado da cidade. Era uma forma justa de ganhar dinheiro de forma honesta. Apostando na falta de sorte dos idosos, das donas de casa e oficializando e declarando toda a receita devida ao Fisco.

Vinicius Santana
Enviado por Vinicius Santana em 02/08/2015
Código do texto: T5331854
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