SEM ASSUNTO

Sabe, hermanos, aquela agonia quando botamos o papel na máquina e dá branco total? É ainda escrevo numa velha máquina de escrever Olivetti (fabricada no México, é uma Valentine vermelha). Escrevo à máquina porque devido aos remédios para asma fico trêmulo e só posso datilografar com muita força e se fizesse no teclado do computador ele quebraria no ato. Quem digita meus textos é meu neto.

Voltando à vaca fria da falta de assunto: é horrível. Cadê o assunto? Tomou Doril. Então me levanto e vou para a janelinha do quarto e fico olhando o movimento da rua sem graça. Passa auma mulher puxando um cachorrinho balaio, nunca um povo gostar tanto de cachorros como o das Graças no Recife, o bicho para perto de uma árvore, não apenas mija mas caca também, e caga na calçada, a mulher não levava a bolsa e pazinha para botar limpar e por a merda no saquinho, ela apenas ri, ainda é jovem, nem está aí para a limpeza pública. Um fusquinha acho que 65, mas bem conservado paca pára na frente do prédio defronte ao que moro. Parêntese: adoro fusquinha, acho que adoro mesmo é me lembrar da época do fusquinha, nunca possui um nem carro nenhum, nem dirigir eu sei, mas, repito, adoro fusquinha. Fecho parêntese. Do carro desce um cara de seus 40 e tarará, meio apreensivo, fica encostado no carro, depois de usar o celular, logo depois surge uma moça, acho que com trinta e tarará. Discutem. Pela minha experiência em discussões, acho que ela disse: "Porra, você me fez de palhaça, fiquei esparando, plantada e você não apareceu, sem dúvida estava tgrepando com as vadias". Ele: "Calma, mô, assim a gente não pode esclarecer as coisas". Ela manda ele praquele canto e retira-se arretada. Ele, baança a cabeça desapontado, entra nocarro e o fusquinha arranca. Como conheço esses arranca rabos, logo mais à noitinha vão fazer as pazes no motel. Juro. O telefone toca, fico puto, detesto atender telefone. É da LBA, querem grana para ajudar os pobres. Espinafro, falo que nqao du um tostão para obra do saudoso Alziro Zarur e Paiva Neto. Bato o telefone, o pore não tinha nada a ver com minha irritação com a LBA. Sinto uma coceirinha na garganta é o aviso que a crise de asma vai chegar, pego a bombinha, dou uma cafungada, aí é que as mãos ficam trêmulas, volto para a janelinha, um morador diz para o porteiro que a defesa do Santa Cruz é uma avenida, o porteiro contesta, batem o maioer papo, os dois são tricolores e anti Sport, o meu time, fico logo arretado. A mulher grita da cozinha: "Datargnan, ligue pedido água que não tem mais um pingo no garrafão". Faço que anão ouço, sei que ninguém vai morrer de sede porque tem duas garrafas de água mineral na geladeira. Volto à máquina e encho o papel em branco. Inté,

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 01/08/2015
Código do texto: T5331270
Classificação de conteúdo: seguro