O MURO

De repente, me dei conta do muro alto e branco à minha frente. Encabulado por não tê-lo percebido e nem como ele, gradativamente, fora crescendo sobre inúmeros retalhos de certas e incertas possibilidades da cidade.

Senti o gosto amargo na boca, enquanto os olhos à espreita, meio de lado, contemplavam o fim da estrada. Busquei aquele abraço amigo que sempre me amparava forte em meus momentos de encontro com os obstáculos e o muro branco me falou de solidão.

E o que se esconde por detrás do muro? Não pertence aos homens e às palavras escritas a carvão. Talvez fale de fracassos constantes, ou de expectativas dilacerantes, ou de realizações imediatas por vir. Talvez fale da dor pelo não feito, mesmo que intentado ou sonhado.

Sobre a calçada, parte a sombra escura de minha própria imagem, sendo engolida pela sombra do muro (de qualquer forma, ele estava ali para me consumir).

A lua alva lambe minhas costas e fala de frustrações, fala de fins e, enfim, o muro branco se torna terrível escarpa, onde minha vida e meus anseios se diluem.

Sou condenado prostrado e o muro, meu poço de lamentos ou minha lápide borrifada de amarguras.

Paulo Pazz

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 31/07/2015
Código do texto: T5330662
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