O MURO
De repente, me dei conta do muro alto e branco à minha frente. Encabulado por não tê-lo percebido e nem como ele, gradativamente, fora crescendo sobre inúmeros retalhos de certas e incertas possibilidades da cidade.
Senti o gosto amargo na boca, enquanto os olhos à espreita, meio de lado, contemplavam o fim da estrada. Busquei aquele abraço amigo que sempre me amparava forte em meus momentos de encontro com os obstáculos e o muro branco me falou de solidão.
E o que se esconde por detrás do muro? Não pertence aos homens e às palavras escritas a carvão. Talvez fale de fracassos constantes, ou de expectativas dilacerantes, ou de realizações imediatas por vir. Talvez fale da dor pelo não feito, mesmo que intentado ou sonhado.
Sobre a calçada, parte a sombra escura de minha própria imagem, sendo engolida pela sombra do muro (de qualquer forma, ele estava ali para me consumir).
A lua alva lambe minhas costas e fala de frustrações, fala de fins e, enfim, o muro branco se torna terrível escarpa, onde minha vida e meus anseios se diluem.
Sou condenado prostrado e o muro, meu poço de lamentos ou minha lápide borrifada de amarguras.
Paulo Pazz