Temores Profundos
De repente tomava-me um medo vago, porém dilacerante, o de que toda a ordem estabelecida fosse pervertida em caos.
O Norte não seria em frente, nem o sol nasceria à leste, muito menos encontraria ocaso em seu turno diário à oeste, ou coisa pior, que as cores fossem subitamente resignificadas, o verde deixaria de sê-lo e não indicaria o caminho livre, já o vermelho simbolizaria a paz e relutante eu estacaria em frente ao semáforo da escada rolante, com a profunda dúvida, subir ou descer?
Tenebrosamente os pássaros teriam seus radares alterados e voariam perdidos em bandos pela metrópole nublada, os carros hesitariam nos fluxos sem sentidos buzinando e acidentando-se.
Um medo arrepiado em suspiros, gélido e agora penetrante, vago, mas constante em possuir-me...a Gramática perderia sua Matemática e as palavras não dariam sentido a si mesmas e todas as histórias do mundo poriam-se a embaralhar e a se confundir, nem os números mediriam algum parâmetro e a música deixaria de soar harmônica na escassez de notas que não se comunicam...um assombro, como um estertor dos moribundos, de ruir num infinito buraco negro, o qual os tempos idos e futuros fundem-se e toda a realidade fosse convertida em sonho e sombriamente o sonho convertido em pesadelo.
De repente ainda, vieram duas amigas a acudir-me, aliviar-me com boas dosagens de segurança, necessária para os momentos de desespero, por favor deem as Boas Vindas a elas, Serenata 50mg e Topiramato 50mg ambas vinham diariamente, pela manhã ao desjejum e eram como meu último ato antes de adormecer...corriam impetuosamente pelo meu sangue vermelho (que já estabelecida a ordem, voltara a significar sangue) e alegravam-me e eu sorria com meus dentes amarelos, (significando café e nicotina) destemido de ordem e caos.