"Teco-Teco". Um triste personagem de bairro.
A vida é uma caixa de surpresas e, como tal, apresenta situações deveras inesperadas.
Por volta dos anos de 1970 e 1973 residia no bairro em que também morei, um jovem de nome Moisés, cujo sobrenome não me recordo, mas que tinha como apelido "Teco-Teco", atribuído pela rapaziada brincalhona e maldosa da localidade. Por quê?
– Simplesmente porque sofria de forte problema neurológico, andava batendo os membros superiores e dobrando os inferiores, servindo, assim, de chacota para aqueles perversos desocupados.
Algumas pessoas de elevados princípios morais, tentavam reverter o lamentável quadro conversando, por diversas vezes, com o grupo dos perniciosos rapazes, sem que obtivessem êxito.
O drama era bastante comovente e angustiante e por isso, em raras oportunidades, foi convocada a presença da Polícia, cuja providência era sempre de caráter paliativo, uma vez que os “algozes” se escondiam por trás da idade de menor, impedindo, como ainda hoje, uma repressão mais rígida e definitiva para o doloroso caso.
Por ironia do destino, numa tarde de sábado ensolarado do mês de dezembro, não me lembro exatamente o ano, a questão teve o seu final propiciado por uma nobre atitude tomada pelo próprio “Teco-Teco”. Aconteceu grave acidente sendo vitimado um garoto chamado Fernando, o qual compunha o rol dos arruaceiros, conforme eram conhecidos e, próximo ao local somente uma única pessoa sabia onde morava o acidentado. Era o infortunado Moisés que, de imediato, se propôs a acompanhar o policial até a presença dos pais de Fernando, socorrido em tempo hábil e, conseqüentemente, salvo e vivendo atualmente no mesmo bairro. O comportamento inesperado e providencial de Moisés sensibilizou a todos da comunidade, inclusive, as famílias dos maléficos jovens os quais, a partir daquele momento, se conscientizaram de que não mais deveriam agir de modo ímprobo com aquele que lhes deu uma lição de humanidade.
O tempo passou, eu mudei para outro bairro distante e não tive mais contato com o pessoal de lá. Recentemente, visitando amigos, tomei ciência de que o Moisés faleceu dois anos após o acontecido e o Fernando permanece residindo no mesmo endereço. Assim é a vida!