Reminiscências
Desde pequenininha tinha o hábito de acordar bem cedinho, e ir correndo dar bom dia ao sol. Em troca recebia seu riso morno, e um toque de suavidade em minhas longas tranças dourada.
Dava bom dia ao meu pé de laranja lima, todo verdinho e serenado, ao pé de pitangas vermelhinhas, e as flores que mamãe cultivava no jardim, com extremo cuidado e delicadeza.
Sentava-me ás margens do riacho límpido que corria atrás de casa, e ali ficava quietinha por horas, ouvindo o sussurrar dos vergéis, as confidências que o vento fazia às águas mansas do riacho, o canto dos pássaros, a festa que a natureza fazia saudando a vida. Eu ali absorta, observava extasiada o desabrochar cheio de pureza de margaridas bebe. Já nasciam serelepe e sorridente, me convidando a tomar banho de sol.
Sentia-me parte daquele mundo mágico, tão cheio de cores e vida. E os odores que chegavam com o vento, inebriavam-me, com o cheiro de poesia viva que traziam consigo.
A sensação de mergulhar meus pezinhos pequeninos nas águas mornas do riacho, e senti-los beijados por peixinhos vermelhos, enquanto borboletas coloridas me acariciavam os cabelos era indescritível. Os sinto até hoje na pele viva da memória.
Quem me via ali misturada à natureza como se fosse flor, poderia até achar que eu tinha vocação pra maluca.
Eu nem me importava, e não me importo até hoje, por que a única coisa que realmente tenho medo é de um dia desses acordar normal.
(Edna Frigato)