G A L I N H O

No final dos anos 50 e começo dos 60, a preocupação dos rapazes na faixa dos 18 anos era o sexo. Depois de criar calos nas mãos sonhando com as artistas de cinema e com as boazudas da cidadezianha, mas ainda donzelos, a moçada ansiava pela Hora H, transar com uma mulher. Não se usava esse termo ainda, era usado o verbo trepar. E isso só era possível com as quengas do cabaré. Em Arcoverde havia o celebre Itapoã, o Templo do Prazer como um boêmio o aapelidou. Era parecido com o famoso Bataclã do livro de Jorge Amado.

Um desses donzelos era um amigo meu. Ele estava com 18 anos e ainda não tinha sido descabaçado, quando outros precocers de 16 e 17 já conheciam mulher. Isso o irritava. Foi então que um malandro do sinuca que tinha um chamego com uma quenga do Iapoã, teve pena do "donza" (era assim que chamavam os que não conheciam mulher) e acertou com sua cabrocha o descabçamento do donza. Mas tinha um custo. O carinha quebrou seu cofrinho de barrro e juntou as moedas entregando a "fortuna" ao maladro. À noite fomos todos em comitiva para o Itapoão festejar o descabaçamento do amigo donza. No Iapoão tinha uns quartinhos, o donza foi com a cabrocha despachada. Ficamos nas imediações esperando. Ocorre que como soubemos depois, no seu afobamento, doido e excitado, o donza antes de tirar a cueca se melou todo. A quenga caiu na risada e gritou: "Oxente, ô sujeito avexado da gota serena, parece inté um galinho, se melou todo antes de perder o cabaço". Não seria dessa vez que ele conheceria mulher, mas ganhouum apelido que o acompanhou por toda a vida: Galinho.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 30/07/2015
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