Águia

Sobrevoava a cordilheira em busca de caça, o inverno frio das montanhas se aproximava com rigor, a comida escasseava a cada dia, e os pequenos animais terminavam a sua árdua rotina de juntar gravetos e algumas provisões para a nova estação, aparecendo cada vez menos pela campina.

O cenário pintava-se aos poucos de uma nova matiz, e um vento frio se fazia anunciar a cada manhã, avisando que o outono terminava. Para uma águia como eu, nunca havia tempo , e a chegada da nova estação aguçava ainda mais os meus sentidos, como a mãe natureza me preparara pelo código da origem, no espreitar de uma lebre desavisada, um lagarto ou um ratão ocupado com a própria sobrevivência. Sou uma de rapina, e durante mais de mil anos, e muito mais, aprendemos a caçar, e a respeitar a vida, por mais contraditório que isso possa parecer, nós não matamos, nós caçamos as nossas presas obedecendo ao chamado selvagem, e igualamos os ciclos, nisso que os homens chamam de equilíbrio, pois a vida é assim, os mais fortes se impõem aos mais fracos, e sem eles não sequência.

Quanto mais alto voava, melhor os podia ver, planando à seguir em voos rasantes com as garras abertas ,colhendo a presa por detrás , para compactuar com o silêncio das sombras ,sendo apercebido à apenas poucos metros, não havendo qualquer sentimento de amargura ou de ódio, quiçá uma gratidão difícil de traduzir na minha espécie. Para que uns vivam outros precisam morrer, é assim que a vida se apresenta, parecendo desonesta dentro da sua justiça, e tão crua quanto a carne dilacerada pelo meu bico.Entre os homens não é muito diferente ,só que a hipocrisia não lhes permite admitir que os fortes são os que não dependem de outros,mesmo que paguem com a vida por essa audácia , é um reverso.

A liberdade da águia está nos solitários voos, e aprendi a ser sozinho desde cedo, e sentir-me dono da cordilheira, voando tão alto quanto os picos nevados, e do outro lado, o mar, e quando as encostas dos montes começam a diminuir ,formam-se as íngremes paredes de pedra que se precipitam até os rochedos. Não costumo ir até lá, mas a sinto daqui, o cheiro de sal está presente quando me acerco, e o vento se encarrega de trazer notícias das águas, os sentidos se aguçam e movo a cabeça em todas as direções, sem perder o curso.

Não temos um inimigo natural, o equilíbrio se dá pela própria espécie , geramos poucos de nos, e só alguns chegam a idade adulta, pensam até que beiramos a extinção, o que não é verdade, os homens pouco sabem sobre nós, pensam que sabem de tudo, mas não é bem assim, são os que menos sabem, pois acreditam nas próprias teorias e não no instinto dado pela natureza, eles sim é que estão à beira da extinção , e não percebem. Os homens não sabem voar, ainda bem, pois seriam um perigo constante, correm pouco comparado a outros animais, mas podem comer praticamente de tudo , como uma máquina de moer, mas possuem a maior arma de todas, a que chamam de razão, mal utilizada no entanto, o que os torna o maior de todos os predadores do planeta. Afastem-se deles ecoam vozes sem palavras, murmúrios em cada rincão habitado..." afastem-se ", pois é o único animal capaz de destruir a sua própria espécie.

Aragón

PS; Esta estrada que sigo já estava pronta quando escreveram " A revolução dos bichos", e "Fernão Capelo Gaivota", e sobre a trilha demarcada anteriormente por " La Fontaine" em suas fábulas. Cada um usou os animais para criticar o homem e a sociedade humana num ponto específico. Vejamos; Orwell ,por exemplo, bateu forte no capitalismo e nas formas de governo, Bash , tocou nos limites do orgulho e do entendimento pessoal, e La Fontaine na alma e nos valores morais.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 29/07/2015
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