Crônica de Ialmar Pio Schneider
CIGARRAS E FORMIGAS
IALMAR PIO SCHNEIDER
Nos primeiros anos de escola primária, se não me falha a memória, no terceiro, aprendíamos a fábula “A cigarra e a formiga”, de La Fontaine, traduzida pelo poeta português Belchior M. Curvo Semedo, expressa com as seguintes estrofes: Tendo a cigarra em cantigas / Folgado todo o verão, / Achou-se em penúria extrema / Na tormentosa estação. // Não lhe restando migalha / Que trincasse, a tagarela / Foi valer-se da formiga, / Que morava perto dela. // Rogou-lhe que lhe emprestasse, / Pois tinha riqueza e brio, / Algum grão com que manter-se / Té voltar o aceso estio. // “Amiga, (diz a cigarra) / Prometo, a fé d’animal, / Pagar-vos antes de agosto / Os juros e o principal.” // A formiga nunca empresta, / Nunca dá, por isso ajunta... / - No verão em que lidavas? “/ À pedinte ela pergunta.// Responde a outra: “Eu cantava / Noite e dia, a toda a hora.” / “Oh! Bravo! (torna a formiga) / Cantavas? pois dança agora!”
Ensinavam-nos que se não fizéssemos nosso pé de meia no verão, quando chegasse o inverno iríamos ter dificuldades insuperáveis para nossa sobrevivência. De fato, aquela filosofia ficou impregnada em meu subconsciente por diversos anos até que, bem mais tarde, conheci os sonetos de Olegário Mariano, entre os quais o “Conselho de amigo”, que assim se expressa: Cigarra! Levo a ouvir-te o dia inteiro, / Gosto da tua frívola cantiga, / Mas vou dar-te um conselho, rapariga: / Trata de abastecer o teu celeiro. // Trabalha, segue o exemplo da formiga, / Aí vem o inverno, as chuvas, o nevoeiro, / E tu, não tendo um pouso hospitaleiro, / Pedirás... e é bem triste ser mendiga! // E ela, ouvindo os conselhos que eu lhe dava / (Quem dá conselhos sempre se consome...) / Continuava cantando... continuava...// Parece que no canto ela dizia: / - Se eu deixar de cantar morro de fome... / Que a cantiga é o meu pão de cada dia.
Foi deste modo que a literatura explicava-me por dois prismas como deveria ser encarada a existência das cigarras e das formigas. Comecei a aceitar que Deus as fez para que cumprissem seus destinos já traçados. Nem por isso julguei transpor ao homem esta fatalidade, pois este é dono do livre-arbítrio, o que o leva a diferenciar o certo de o errado, ou melhor dizendo, escolher o caminho que deverá trilhar para seu bem-estar e o de sua família. Estamos aqui de passagem, mas podemos discernir as coisas existentes ao nosso redor, sem fugir da responsabilidade que nos pesa.
Se não conseguir realizar tudo o que desejava, por que me frustrar? Posso, contudo, desenvolver as atividades por mim exequíveis de acordo com as minhas forças. Dizem por aí que, nos dias atuais, empatando já é a conta.; outros falam em não deixar cair a peteca; e assim por diante. São expressões populares que despertam um sentimento de aceitação. Quero crer que é a maneira mais adequada de enfrentar a vida.
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Poeta e cronista
Publicado em 26 de julho de 2000 - no Diário de Canoas.
http://ial123.blog.terra.com.br/
em 10.06.2010
http://www.diariodecanoas.com.br/site/interativo/interativo_blog,canal-5,ed-105,ct-99.htm
EM 31.07.2009
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em 14.8.2010
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EM 14.8.2010