Da Janela

Da janela olhei ao longe outra janela. Tinha alguém lá dentro, como sempre tem alguém de trás das portas trancadas, de trás dos vidros e das vidraças.

Fiquei pensando naquela vida e na minha própria. Em cada luz que apagava no prédio ao longe e nas que acendiam. Pensando no que ficava daquilo tudo...

Estava estressada e cansada de algumas expectativas que criei e nas quais ansiosa e desesperada me atirei. E me afoguei naquelas promessas não cumpridas. Sei eu se em algum momento prometidas!

Fiquei ali olhando pela janela, tentando adivinhar aquelas vidas e aquelas gentes. Senti um certo temor por não conhecer nenhuma delas ou por ter podido, de repente, em algum momento ter com qualquer delas esbarrado sem nem saber.

Fiquei pensando que o mundo é vasto e tão pequeno ao mesmo. Fiquei filosofando umas coisas sem nexo, mas que pareciam fazer todo sentido. Aí fiquei pensando se era crônica o que eu escrevia, se era filosofia o que eu suspeitava, adivinhava e imaginava. Fiquei pensando que diferença fazia nomear as coisas se no final tudo era parte da mesma coisa. E coisa é coisa. Coisa parece feio, desajeitado, deselegante. Mas coisa é tudo e coisa é muito. E coisa contem de tudo um pouco. Então coisa é vasto como o mundo. E pode não ser lá muito bonito ou pomposo, mas define muito. E, sendo assim, coisa é preciso e eu preciso usar.

Ouvi a chave girar no trinco da porta. Não sei se a palavra trinco existe, mas chega de divagar! Olhei pela janela e já era noite. Já era hora de acordar dos devaneios. Deixei em paz as outras vidas e dei descanso a minha própria. Fechei a cortina e fui jantar.

MAMagni
Enviado por MAMagni em 28/07/2015
Código do texto: T5326932
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