Alô, Simone?
 
O telefone toca pela milésima vez. Número desconhecido... Ela não vai atender de maneira alguma, pois não tem nada a tratar com desconhecidos. E os golpes? E os golpes de dentro das penitenciárias? A mídia anda divulgando amplamente sobre os golpes que vêm sendo aplicados em Beagá.  Nunca que vai cair!  
 
Ah, pode ser também a tal loja que há dois anos liga pra cobrar uma dívida da Cidinha, sua antiga funcionária. Vai ver agora tentam de um novo número para enganá-la! Anda cansada de explicar que não tem mais contato com a moça: ela tinha aprontado e mexido areia, tomando rumo ignorado. Pois bem, que toque o telefone. Ela não vai atender de jeito nenhum!  Não vai? Mentira! Não aguenta mais a pressão, atende na próxima chamada:
— Alô!
— Alô, Simone?
— Simone, não! Marli! (é Teresa, mas é claro que não vai contar)
— Ô meu amor, por que cê tá fazendo isso comigo?
— Isso o quê, meu Senhor?
— Meu Senhor? Quê isso agora, Simone?
— Simone, não! Marli!
— Cê sabe o quanto eu lhe amo, mulé! Eu ligando há dois dias, e cê não atende...
— Não atendo porque não sou a Simone. Seu número é estranho pra mim...
— Não disfarça, Simone. Cê tá fugindo de mim...
— Eu, fugindo? O Senhor tá bêbado, tô vendo...
—Tá vendo? Eu tô aqui no Pará...
— Quero dizer, eu não tô vendo...
— Não tá vendo? O que houve com seu olho, minha linda?
— Com meu olho? Nada! E eu não sou sua linda...
— Simone, não mente, eu sei que cê taí...
— Meu senhor, eu tô vendo que bebeu, sua voz tá pastosa e ...
— Pois bebi mesmo! Bebi de tristeza, de paixão...
— Oi?
— Paixão! Bebi de paixão, Simone!
— Escuta, eu sou a Marli e...
— Tá bom, Marli. Vou lhe fazer uma indagação...
— Indague!
— Cê é casada?
— Quê? Mas que atrevimento! Vou desligar!
— Ei, não desliga, não! Sua voz é linda! Seu nome é lindo, Marli!
— É? Pois saiba que nem sou Marli!
— Não?? Ah, tá vendo? Eu tava certo!  Cê é a Simone, né? Simone volta pra casa! Agora!