O quiroprata de Ottawa
O nome dele agora se me esvai, mas creia, era e havera de ser famoso, uai. E prova tava que na sala de espera, muito bem adornada de seu consultório, tinha, entre tanta memorabilia, foto grande de Shirley McLaine, com dedicatória e agradecimento àquelas mãos mágicas que a haviam livrado de tanto sofrimento. Precisa mais?
E nos acomodamos, Lina e eu, ao lado de um distinto casal, canadense por sinal, em que o marido, bem dorido, de bengala, cujo apoio tudo fala, buscava também embarcar na salvadora nau de Shirley.
Quando nossa vez chegou, o tratamento veio rápido, quase sem consulta: o deslocamento do pescoço era a marca de partida do moço. Que depois de boas marteladas palmares, ao final da sessão recolocava tudo em seus devidos lugares, com seus firmes polegares. Diante, e inobstante, nossos atônitos olhares.
Como a minha participação era mais solidária, minha mulher é que apresentava o histórico, e o geográfico, de uma coluna tumultuária, achei por bem, refrear-me nos instintos, e não passar da sala de espera na próxima sessão, que se deu na semana seguinte.
E para nossa surpresa, lá se encontrava um mesmo casal de antes, ele agora de muletas, sem ao seu mal querer dar tretas. Alegre e descontraída e sorridente, só a hollywoodiana Shirley que era mais que um mero retrato na parede.
Já na terceira sessão qual não foi nosso espanto reencontrar daquele original casal somente o parceiro, de cadeira de rodas..., meio cabreiro.
Esperamos tão-somente que a porta do honorável quiroprata se lhe abrisse...e voltasse a se fechar para, num átimo, que ótimo, com pernas e colunas meia volta dar, e nunca mais voltar. Nem se a Shirley chamar.