Assim...ou nem tanto. 1
Da humildade
Acredito, sinceramente, que nenhum de nós tem poder para decidir as suas potencialidades. Os dons nascem conosco e o talento, quando existe, vem na matriz que herdamos nos genes dos nossos cromossomas. Não se justifica, consequentemente, qualquer vaidade quanto ao que podemos fazer de modo diferente e melhor que todas as outras criaturas já que nada do que somos resulta da nossa própria vontade. Há, no entanto, dons e talentos que nunca se desenvolvem por ser necessário esforço para os exercitar até que assumam o primeiro plano de uma realidade consequente. Posso ter a capacidade mas, sem esforço e vontade, não consigo que seja eficaz aquilo que só me foi dado potencialmente. “ O caminho faz-se andando”, disse o poeta castelhano Antonio Machado, mas sem pernas não se faz caminho, diria La Palisse. Entre estes parâmetros de meditação achamos o homem na sua plenitude. Feito à semelhança de Deus (como se pode ler em Génesis) e destinado à glória, arrasta-se muitas vezes como medíocre e vário, medíocre e perdido. Atraído pelo fogo muitas vezes se queima; submetido à vaidade corre riscos de amor estéril e de solidão como Narciso. Amar uma imagem é abdicar da carne, do sangue e do espírito que geram a humanidade vulgar e justificam o amor capaz de dar frutos.