Poder que Não Muda
Tive desde cedo a noção de que a esquerda poderia estar mais próxima da justiça. Primeiro com Elói Dutra e o PTB de Vargas, na época. Tinha verdadeiro temor de Carlos Lacerda e outros do mesmo naipe. Depois com Edson Kair, Lysaneas Maciel, Jango, Brizola, Darcy e outros continuei com a mesma noção de maiores chances de justiça.
Então vieram Lula e o PT, a alternativa a que poderíamos aderir. Já que Brizola havia encampado a ITT e, por conseguinte, se tornado o inimigo número um da Rede Globo, que todos diziam pertencer ao grupo Time-Life.
Votamos então no PT e vimos a inauguração de um novo período. Que possibilitou a dissipação da noção que tínhamos a respeito da esquerda. A ponto mesmo de em inúmeros casos confundi-la com práticas direitistas, muitas vezes dissociadas de atos de justiça.
Vemos no momento a denodada tentativa, por parte dos adeptos do PT, de se massacrar o juiz Sérgio Moro. Acusam-no de ser “homem difícil e presunçoso”, (...) “de pouca serenidade” (...) e “responsável por prisões medievalescas que cobririam de vergonha qualquer sociedade civilizada”.
O que cobre de vergonha qualquer sociedade civilizada são os inúmeros casos de corrupção cujos infelizes desdobramentos chegam ao nosso conhecimento quase que diariamente. Ações ilícitas perpetradas por políticos de quase todos os partidos, inclusive do PT.
Chega-nos logo a lembrança do Ministro Joaquim Barbosa, alvo do rancor petista, pela sua atuação à frente do Mensalão, e de acusações pessoais, inclusive de que ele teria o hábito de agredir a esposa. Tudo porque, não sem fundamentação, ousou contribuir para a condenação de pessoas consideradas intocáveis ou acima de qualquer suspeita pelos petistas.
O que se chama “cortar na carne”, expressão que muitos dirigentes preferem usar somente no nível da retórica, é o que o povo deseja que aconteça. Não devem ser poupados (ou blindados) os políticos responsáveis por atos criminosos, como prevaricação ou apropriação indevida de verbas públicas, doações não fundamentadas, desvio de verbas, etc., procedimentos atentatórios aos interesses do país e de seus cidadãos. Independente do partido a que pertençam.
Se o juiz Sérgio Moro e, anteriormente, o Ministro Joaquim Barbosa, não trabalharam ou não trabalham com essa preocupação, eles não merecem mais que o desprezo da sociedade. Caso contrário, não podemos deixar de reconhecer o inestimável valor desses magistrados.
Rio, 28/06/2015