Cidade de Concreto

Não porque era segunda, ou porque o céu estava bem cinza, nem por ser inverno.

Era mais ou menos sete horas da manhã e ainda chovia gota a gota, devagar, chuva só pra chater, chovia ralinho.

Andar nas ruas empoçadas, nas escorregadias calçadas, nas goteras forçadas por tealhados tortinhos.Nem por isso.

Não estava triste nem alegre.Apenas estava.

Nem depressa ou devagar, apenas a caminhar.

Com tempo marcado pra chegar, mas sem medo de atrasar.

Entre os muros pixados, os prédios grandes e pequenos, até os sobrados, tudo acinzentado combinando com o céu e com o concreto da cidade agora molhado.

Olhou pro chão, queria ver por fora do agasalho um grande e vermelho coração a bater; mas supreendentemente não.

Quem cresce na cidade, mais cedo ou mais tarde vira cidadão de concreto sem saber na verdade quem é ao certo.

Com medo dos sentimentos, com medo de ter reações,com medo de um toque, com medo de esboçar expressões, com medo de ter emoções, com medo de ser educado dizer:

- Desculpe.

-Com licença.

-Obrigado.

Vive dentro e fora de casa sempre trancado, com cara de irritado, perde o amor de criança e tem o coração gelado, sem sorriso nos lábios, concreto de tudo, sem valor real nesse cinza de mundo.