às sete horas da noite

Os olhos mal se abriram e a má vontade do corpo em sair de baixo das cobertas podia ser bem compreendida, já que o frio, afiado e agudo, rasgava cada poro infortunadamente desprotegido da coberta. O dia ia passando, os afazeres de sempre eram ticados por uma mente já acostumada com certa rotina. Conversas aleatórias com um ou com outros iam se dando naturalmente, às vezes alguém para marcar um novo encontro e outras lembrando saudosamente de encontros já ocorridos.

Sem pensar muito ele marcou três encontros para o mesmo dia. Sabia, intuitivamente, que só um daria certo e que os dois outros eram só “fritas”, como diria um amigo dele. E, a tarde, com nuvens pesadamente carregadas por um vento já cansado de assoprar, mas realizando devidamente seu ofício, enfim havia chegado.

- Às sete horas, né? Na catraca do metrô Trianon.

- Sim. Às sete.

“Às sete” não seriam as sete. Porque a chuva chegou e entupiu de carros estacionados as ruas que faziam parte do meio do caminho. As sete viraram sete e meia, oito horas e nove horas e treze minutos, mas enfim ela chegou e o abraço nervoso pode ser dado com as desculpas já conhecidas e entendidas de quem vive na Paulistana cidade.

Cada gota de chuva caída chacoalhava seu som nas árvores, edifícios, rua e nos guarda-chuvas mais pretos do que coloridos, fazendo assim a melodia mais antiga de todas ser reconhecida por todos os transeuntes da Augusta.

O frio e as gotinhas insistentes não foram suficientes para despistar a atenção que um tinha sobre o olhar do outro e, no meio de uma fala, o lábio de um deles não resistiu e foi beijar o outro, como imã que atrai todos os alfinetes de uma caixinha de costuras.

Passaram as primeiras horas e as outras também, mas estavam conversando havia apenas dez minutos... Como podia isso?

Houve um pouco de tudo. Como um resumão antes de prestar a FUVEST, cada um contou sobre sua vida, suas vontades e seus medos e, às sete da manhã, o Sol já estava dizendo que era hora de ir embora.

Eles foram e ainda estão comentando sobre certas coincidências que lhes permitiram boas risadas do inacreditável poder ser crível.

A fechar os olhos, má vontade nenhuma o esperaria no próximo despertar, estava, ao contrário, ansioso para as próximas horas.

Renan Sposito
Enviado por Renan Sposito em 26/07/2015
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