Pensamentos inesperados




 
 
                  A chamada inconstância  da mente  é um fato. Pensamentos inoportunos que surgem algumas vezes.  Já adianto para os amigos e amigas, antes que fiquem assustados, que a psicologia moderna  nos diz pra não ligar, não tomar conhecimento desses pensamentos,  que eles logo vão embora. É mais ou menos como aquele fenômeno do apelido inconveniente, que botam na gente.  Se você ligar para o apelido, ele gruda e não sai mais.  Mas se você não ligar, ele vai embora assim como veio.
 
                  Digo isso porque ri muito ao tomar conhecimento de uma fase do grande humanista Bertrand Russell ( tinha verdadeira compaixão pela humanidade), que  ao escrever  para um amigo, disse o seguinte: - “Ultimamente, tenho me sentido simplesmente oprimido pelo cansaço, pelo tédio e pela inutilidade das coisas; nada me entusiasma, nada me parece digno de fazer-se ou de ter-se feito: a única coisa que eu sinto vivamente que valeria a pena fazer seria assassinar o maior número de pessoas possível, de modo a diminuir a quantidade de consciência existente no mundo. Estes tempos, a gente tem de vivê-los – pois não há outra coisa que se possa fazer com eles.” Realmente, vamos combinar, tem cada consciência no mundo de lascar...
                  Animado e autorizado pelo filósofo, um exemplo de humanismo, vou confessar aqui o que me dá na cabeça de forma repentina, em certos momentos.
                  Vejam a cena: vou dirigindo o meu carro e motocicletas passam por mim a 100 Km por hora. Pela direita, pela esquerda e quase voando por cima do meu carro. O que penso infalivelmente: “gostaria nessa hora de ser um lutador de sumô, com enorme peso e musculatura. Com esse aparato inexpugnável, pegaria o infrator de trânsito, o agarraria pelo pescoço, o levantaria por cima de minha cabeça como se fosse um halteres e o jogaria contra a  primeira parede que encontrasse.  E a minha fantasia prossegue:  chegaria o dia em que todos da cidade passariam a me temer. E o cochicho seria esse: - “Cuidado, meu chapa ( se fosse em São Paulo seria “ô meu”), anda direito no trânsito, senão aquele lutador de sumô esborracha você na parede”. Como veem, tenho também as minhas recaídas no meu humanismo.
                  A verdade é que não somos anjos como gostaríamos de ser, fato muito bem observado pelo escritor Conrad, que escreveu “Coração das Trevas”.  Era um pessimista (o que não sou) e dizia com muita graça que o homem quando quer voar não voa como um anjo, mas como um besouro. E como é feio e tolo, além de ridículo o voo do besouro.
                  Comecei a crônica falando da instabilidade de nossas mentes, que é um fato. No entanto, para não encerrar tão pessimista assim, devo dizer que Bertrand Russel disse  que aprendeu em Cambridge o valor da honestidade intelectual, daí a sua confissão sem constrangimentos de que tinha vontade de “matar” todo mundo.
                  E eu, seguindo seu bom exemplo, sinto-me aliviado em confessar a fantasia do lutador de sumô.
                  Claro, sempre ficaremos perplexos com a diversidade e inconstância das consciências. Dou um exemplo para terminar, extraído da autobiografia de Russell.  O poeta George Eliot disse para um amigo que não existe Deus, mas que, apesar disso, devemos ser bons. E o amigo decidiu assim: - “Existe um Deus, mas apesar disso, não precisamos ser bons.”