Olha, beijar só faz bem...

     1. No seu belo livro A Ciência do Beijo, Sheril Kirshenbaum, pesquisadora da Universidade do Texas, escreve, que, "durante milhares de anos , o beijo foi ridicularizado por poetas e comentaristas e considerado repugnante, venal, sujo e coisa pior."
     2. E mais adiante: "Os papas e os imperadores tentaram punir seus súditos inúmeras vezes, alegando razões morais ou de saúde, mas nem mesmo os homens mais poderosos do mundo conseguiram controlar seus lábios."
     3. Os tempos mudaram e o antes repudiado ato de beijar é hoje um costume indiscutivelmente saudável e  definitivamente consagrado.
     No momento, ao que se sabe, no Brasil, apenas os índios da tribu Manihaku, que habitam no Alto Xingu, na distante Amazônia, "veem o ato de beijar como algo nojento", diz uma pesquisa recentemente publicada.
     4. Veja ainda o que a brilhante autora, acima apontada, declara no seu magnífico livro: "Durante um beijo apaixonado, nossos vasos sanguíneos se dilatam e nosso cérebro recebe mais oxigênio do que o normal.
     Nossa respiração torna-se irregular e mais profunda, nossa face enrubesce, o pulso acelera e as pupilas dilatam (talvez seja uma das razões por que muitas pessoas fecham os olhos)".
     5. E prossegue: "Não se trata exatamente de um exercício físico, mas o beijo queima algumas calorias, e é claro que a quantidade depende da sua intensidade e duração."
     E garante a autora: "Os lábios são, sem a menor dúvida, a parte do nosso corpo que mais envia informações para o cérebro durante um beijo." O livro da Sheril oferece muito mais; é surpreendente, e, por isso, torna-se indispensável sua presença na nossa estante de boas leituras.
     6. Houve, sim, o beijo traiçoeiro de Judas, embora se ponha em dúvida se, de fato, isso teria acontecido.
     Mas, em compensação - os livros nos contam -, Jesus, porque amava Maria Madalena, beijou-a nos lábios; e não foi apenas uma vez... No Evangelho de Filipe há um versículo em que é dito: "O Mestre amava Myriam mais que todos os discípulos, e a beijava frequentemente na boca."
     7. Me dei ao trabalho de rabiscar esta crônica fazendo estes elogios ao beijo depois de ler a matéria que saiu nos jornais com este curioso título: "Beijar não é uma prática universal, afirma pesquisa."
     8. Confesso, que, penetrando no texto, senti-me decepcionado. Pois, tinha a mais absoluta certeza de que a história era exatamente o contrário do que afirma a pesquisa feita pelos cientistas americanos e publicada no periódico científico American Anthropologist.
     9. Vou transcrever a surpreendente matéria, sem tirar nem pôr, para não confundir os amantes (assim como eu) do ósculo, nas suas mais variadas modalidades e sabores...
     10. Diz a gazeta. "Dar ou receber um beijo parece ser uma prática universal. Mas, curiosamente, pouco mais da metade das culturas do planeta adotam esta prática." O estudo feito pelos cientistas "indica que o beijo romântico e sexual só existem em 46% das 168 culturas analisadas."
     11. "Em algumas que não apresentam este comportamento, ele é considerado até mesmo repulsivo. Na América do Sul, por exemplo, a taxa foi ainda menor: 81% das 21 culturas analisadas não praticam este beijo."
     12. "No outro extremo, está o Oriente Médio, onde o beijo romântico está presente em 100% das dez estudadas, seguido pela Ásia (73% de 37 culturas), Europa (70% de dez culturas), América do Norte (55% de 33 culturas) e Oceania (44% de 16 culturas)."
     13. Dia desses, num almoço em família, conversando com um amigo, casado com uma finlandesa e morando, há 12 anos, em Helsinki, depois de presenciar a troca de beijinhos entre familiares e convidados, perguntei-lhe se o mesmo acontecia na gelada Finlândia.
     E ele, na presença de sua bonita companheira, foi ágil na resposta: "Não. Lá prevalece o aperto de mão."
     14. Depois de tudo isso, chego à conclusão de que o Brasil, apesar dos pesares, é um país feliz. Aqui cultiva-se, sem inibição, a troca de beijinhos em praça  pública, no recato dos lares, e no silêncio das alcovas...
     15. Entendo, permitam-me, que o beijo romântico, sexual, inocente, pecaminoso, e inté o beijo protocolar, qualquer um deles, traduz o que de mais terno e de mais sublime uma pessoa pode oferecer ao seu semelhante.
     16. É nobre o seu significado. O saudoso Papa João Paulo II, nas suas andanças pelo mundo, costumava beijar o chão do país que visitava, como uma maneira de acariciar o seu povo.
     17. Por isso, nunca condenei o "atrevido"  português José Alves de Moura, o beijoqueiro, que enfrentava os mais perigosos obstáculos para aplicar  um beijo, ainda que insosso, numa celebridade qualquer. Vamos, pois, continuar beijando: beijar só faz bem! 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 24/07/2015
Reeditado em 24/07/2015
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