SUSTO DA LIBERDADE

Li certa vez um texto, se não me engano de Eduardo Galeano, que contava a historinha de um sujeito que possuía um passarinho numa gaiola. Era u passarinho lindo, parece que um canário do império. Certo dia teve pena do bichinho preso ali naquela gaiola quando poderia estar voando livre e feliz. Resolveu libertá-lo. Abriu a porta da gaiola e o passarinho saiu devagarinho e parou na porta, sem coragem de voar. Foi, segundo Galeano, o susto da liberdade.

Esta metáfora (acho que é isso) da liberdade é verdadeira. Nçao raro a liberdade assusta quem vivia aprisionado e de repente conquista a liberdade. Vejam bem, há casais que se entendiam e resolvem se separar, mas depois sentem uma espécie de vazio, não sabem o que fazwer copm a liberdade. Conheço pessoas que viviam contando os dias para se aposentar do serviço e, enfim, quando se aposentam ficam meio perdidas, alguns continuam todo dia comparecendo à repartição. Outros mudam de cidade, acham sua cidadezinha muito pequena e acanhada e se mandam para a cidade grande, um mês depois bate o banzo e ficam com saudade até dos relógios parados da Igreja da cidadezinha.

Na minha opinião as pessoas - não o passarinho, é óbvio - precisam ativar a sua individualidade, privacidade, cultivar sonhos. E não se escravizarem a nada. A pessoa precisa de um tempo para si próprias, de liberdade para pensar, de tomar suas decisões, mesmo sem se desligar da família e nem da sua terra. É preciso separar as coisas.

Vida que segue.