LIÇÃO DA VIDA
VENDE-SE TUDO
Este texto teve o poder de me transportar para uma passagem da minha vida semelhante a esta.
Uma fase em que meu marido ficou desempregado e mesmo com um salário não muito baixo eu não conseguiria manter o padrão que tínhamos e tivemos que sair do apartamento alugado que morávamos em São Paulo com 211 m² todo mobiliado para morar na casa da minha sogra. Nós vendemos tudo o que tínhamos. Sentada no chão acarpetado, chorava compulsivamente vendo tudo meu indo embora, naquele momento eu fui ao fundo do poço, além de assistir tudo que tínhamos construído sendo levado, eu sabia que não teria nem mais casa e moraria de favor.
Eu mal podia imaginar que ali eu iniciava uma nova jornada, não eram só as coisas materiais que estavam indo embora, junto também foram o orgulho, a vaidade, o apego e a arrogância.
Naquele momento a vida iria me apresentar à humildade e os seus reais valores.
Um ano depois estávamos mudando da grande metrópole para uma cidadezinha esotérica na Chapada dos Veadeiros com 3.000 habitantes, Alto Paraíso de Goiás e recomeçaríamos a nossa vida, sem jantares, festas, teatros e a tudo que estávamos habituados.
Imagine, eu fui criada na zona Sul do Rio de Janeiro, mudei para São Paulo me adaptando super bem ao pique da cidade e teria que me adaptar em um lugar que eu jamais sonhei que existisse, com apenas 3.000 habitantes, sem shoppings, cinemas, lojas... Foi muito sofrimento para alguém extremamente materialista. E mais uma vez a vida me mostrou que o que temos de mais precioso, não está fora e sim dentro de cada um, que é a nossa essência, esta ninguém nos tira e independente do lugar que estivermos ela sempre estará presente. E foi nesta cidadezinha que fui apresentada à mãe natureza e passei a apreciar o canto dos pássaros, o azul do céu, a beleza das variadas vegetações. Ali eu aprendi que o belo está nas coisas mais simples da vida e conheci a verdadeira felicidade.
Hoje olho para trás e vejo como valeu a pena todo o sofrimento, foi como se eu tivesse realmente renascido para a verdadeira vida. E quando vejo pessoas tão apegadas às coisas materiais, percebo que ainda estão de olhos vendados e que sofrem muito desnecessariamente.
Sinto-me leve, pois o pesado fardo ficou lá no passado e agradeço tudo que tenho com a consciência de que nada é realmente meu a não ser o que trago dentro mim que é a minha essência.
E como um pássaro voo livre sem me apegar com as coisas que não me pertencem.
E como um pássaro, voo livre sem me apegar com aquilo que não me pertence.
VENDE-SE TUDO
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.
Outra mãe que estava ao meu lado comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.
O resto, eu vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém a parecesse. Sentados no chão.
O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite, era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu.
No penúltimo dia, ficamos somente com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.
No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.
Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto isto, que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que elas estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher, que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos, a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha dois anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:
"Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir”. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito. (Texto de Martha Medeiros)
Outra mãe que estava ao meu lado comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.
O resto, eu vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém a parecesse. Sentados no chão.
O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite, era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu.
No penúltimo dia, ficamos somente com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.
No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.
Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto isto, que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que elas estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher, que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos, a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha dois anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:
"Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir”. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito. (Texto de Martha Medeiros)
Este texto teve o poder de me transportar para uma passagem da minha vida semelhante a esta.
Uma fase em que meu marido ficou desempregado e mesmo com um salário não muito baixo eu não conseguiria manter o padrão que tínhamos e tivemos que sair do apartamento alugado que morávamos em São Paulo com 211 m² todo mobiliado para morar na casa da minha sogra. Nós vendemos tudo o que tínhamos. Sentada no chão acarpetado, chorava compulsivamente vendo tudo meu indo embora, naquele momento eu fui ao fundo do poço, além de assistir tudo que tínhamos construído sendo levado, eu sabia que não teria nem mais casa e moraria de favor.
Eu mal podia imaginar que ali eu iniciava uma nova jornada, não eram só as coisas materiais que estavam indo embora, junto também foram o orgulho, a vaidade, o apego e a arrogância.
Naquele momento a vida iria me apresentar à humildade e os seus reais valores.
Um ano depois estávamos mudando da grande metrópole para uma cidadezinha esotérica na Chapada dos Veadeiros com 3.000 habitantes, Alto Paraíso de Goiás e recomeçaríamos a nossa vida, sem jantares, festas, teatros e a tudo que estávamos habituados.
Imagine, eu fui criada na zona Sul do Rio de Janeiro, mudei para São Paulo me adaptando super bem ao pique da cidade e teria que me adaptar em um lugar que eu jamais sonhei que existisse, com apenas 3.000 habitantes, sem shoppings, cinemas, lojas... Foi muito sofrimento para alguém extremamente materialista. E mais uma vez a vida me mostrou que o que temos de mais precioso, não está fora e sim dentro de cada um, que é a nossa essência, esta ninguém nos tira e independente do lugar que estivermos ela sempre estará presente. E foi nesta cidadezinha que fui apresentada à mãe natureza e passei a apreciar o canto dos pássaros, o azul do céu, a beleza das variadas vegetações. Ali eu aprendi que o belo está nas coisas mais simples da vida e conheci a verdadeira felicidade.
Hoje olho para trás e vejo como valeu a pena todo o sofrimento, foi como se eu tivesse realmente renascido para a verdadeira vida. E quando vejo pessoas tão apegadas às coisas materiais, percebo que ainda estão de olhos vendados e que sofrem muito desnecessariamente.
Sinto-me leve, pois o pesado fardo ficou lá no passado e agradeço tudo que tenho com a consciência de que nada é realmente meu a não ser o que trago dentro mim que é a minha essência.
E como um pássaro voo livre sem me apegar com as coisas que não me pertencem.
E como um pássaro, voo livre sem me apegar com aquilo que não me pertence.