Como se ama?

Ando meio assustado com a descoberta de uns poderes do amor, não que eu pensara saber de todos os poderes desse sentimento mas é que descobri fundamentos que o regem e talvez eu tenho amado errado. É meio louco pensar na existência certa de uma forma de amar, no entanto fica claro que nem tudo que se faz de bem é amor. Ainda um tanto quanto arisco no assunto morte pela minha recente perda eu me arrisco a dizer que quando a gente perde alguém há um grande vazio a ser preenchido, não quero com isso dizer que há alguém substituível ou que o sentimento pode ser trocado por outro, mas é que ser lembrado de afetos existentes preenche lugares do corpo que eu não conhecia.

Guiado pela estética romântica eu sempre imaginei o coração como casa de tudo aquilo que havia de insensato em mim que eu julgava saber julgar, minhas emoções. É com um certo pesar que tenho que admitir que a rotina muitas vezes desloca esse centro de minhas emoções. Não sei se pela correria dos cafés, se pela monotonia das segundas-feiras ou ainda pela insistência da constância, porém tudo aquilo que eu julgo amar no turbilhão da rotina vira hábito, e tudo que fazemos como hábito pode se tornar mecânico. E por aí se vai o pensamento de que todo esse tempo em que eu fiz do amor minha religião eu podia cultuar o nada.

Tentando olhar de uma maneira diferente penso, quer dizer, não tem como falar desse assunto pensando, mas sonho, vivo, sinto, a rotina pode suavizar o novo, e eis que um dia a chama diminui, quem sabe o dia a dia revele o que é verdade, ele movimente, repique, sopre, e aquilo que passei por cima vire festim, se apague, seja apenas fumaça sem brasa. Por isso que é preciso mudar, e mudar sempre, não sei ainda novas formas de amar, talvez o que estranhe seja a revelação, o externo, esse nunca muda, talvez só o tempo mude isso, mas eis que o tempo no amor não mede nada. Pois então repagino as maneiras de amar, talvez o cotidiano traga amor em cada simples detalhe e na grosseria dos ternos e jalecos eu não conseguia captar.

É assim, quem sabe o visitante seja o mesmo, a casa também, mas eu deva mudar a recepção, os rodapés, o teto, as minúcias... O que sinto muda sim, eu descobri... Talvez não seja o caso de medir, o amor não fica maior ou menor, fica diferente, ora aparece, ora se esconde, talvez eu precise achar o amor nos códigos, nos enigmas, na janela, na nuvem... Só a rotina oferece aquilo que o ócio ou a paixão não dá, esses exigem extrema fidelidade e uma certa devoção que não existe no dia a dia, começo a ver o amor nos sons, eles me lembrar uma risada, um choro, encontro ele no trânsito de rodas e semáforos, penso numa foto ou um momento, o amor pode estar até na morte e sua cerimônia, é preciso estar em rotina, trancafiado na mais sincera monotonia para diversificar o seu amar.

Pensando um pouco... Reformulando, divagando um pouco é possível atestar a pura contemplação do sentimento, quase sempre não estamos preparados para amar, foi possível presenciar isso nesses dias de luto que tive, eu que sempre fui de ver carneiros em nuvens mal podia evidenciar o amor num “Você está errado, meu filho”. Gosto da maneira que o Universo ensina, ou seria eu um tanto quanto louco de dizer que aprendo? Bem, é que nesses dias recebi algumas avalanches de sentimento bons, algumas mensagens que evidenciaram todo o amor que cultivo no coração, ou melhor, agora digo que o amor consumiu todo meu corpo, e vi que dia desses lendo uma dessas mensagens o amor foi demais, transbordou, não ficou maior, foi diferente de tudo, o amor estava nos meus olhos, e não coube, transbordou... Aprendi que chorar é amar diferente.

Gabriel Amorim 23/07/2015