Babi
A mulher vestida de vermelho chegou até a vitrine da loja e namorou a bolsa de couro como se fosse uma entendida no desenho. Do lado de dentro a gerente observava o comportamento dela com seus grandes olhos verdes, cabelos loiros, brincos penduricalhos.
_ Quero aquela bolsa. – diz a loura apontando para a vitrine.
_ Senhora vou chamar a vendedora para atendê-la.
_ Por quê? Você não é da loja?
_ Sou Dinah a gerente.
_ Gerentes não podem vender?
_ Temos vendedoras para essa função: vender. Mas posso abrir uma exceção.
A loura escultural parecia ter saído de academia, na faixa de trinta anos e coberta de jóias. Muita ostentação dentro de um shopping só pra fazer compras.
_ O que tem mais assim desse jeito?
_ A senhora fala de estilo de bolsa?
_ É isso mesmo.
_ Temos para todas as ocasiões, desde o esportivo até gala.
No fundo da loja as vendedoras comentavam através de bilhetes, se a gerente não estaria “pagando um mico”. Passados longos minutos a loura já havia comprado cinco bolsas diferentes.
_ Qual a forma de pagamento? – pergunta Dinah.
_ Dinheiro vivo. – responde a loura sorridente.
Dinah estranha porque a compra totalizou dois mil novecentos e dez reais.
Ela faz sinal para uma vendedora para se aproximar. Recebe as trinta notas azuis de cem reais tiradas de um rolo. A vendedora acompanha Dinah até o caixa que atesta a autenticidade das notas.
Alguma coisa não estava batendo. Antes que acontecesse algo desejaram que a loura fosse embora.
Ela tira o celular da bolsa e chama o Jaime.
_ Vou esperar um pouco, posso usar o banheiro?
_ Claro.
Passado um tempo chegou o Jaime, um negro elegante de quase dois metros, parecendo jogador de basquete americano.
_ Babi não está? – pergunta.
_ Babi? – a vendedora estranha.
_ Sou o Jaime.
Babi e Jaime, uma dupla de chamar a atenção.
_ Ela está no banheiro.
_ Ai. Ai!
Esperou e Babi não aparecia.
_ Será que aconteceu alguma coisa? Ela passou mal?
Jaime bate na porta.
_ Babi, chega, saia daí agora.
_ Ah! Logo agora? – responde ela do outro lado da porta.
_ Agora.
Ela abre a porta, vestida de calcinha e sutiã com uma toalhinha na mão, lança um olhar bem lânguido para o Jaime.
_ Querido ainda não terminei.
_ O tempo acabou. Se vista.
Ela pega o vestido pendurado na maçaneta da janela e veste na presença das pessoas. Guarda uns apetrechos de limpeza como pote com produto gelatinoso, esponja e toalhinha dentro de um saco hermético plástico e põe na bolsa. Em outro pote de tampa de rosca ela tem um rolo de notas de cem reais.
_ Dona Babi seu troco.
_ Não, obrigada, fica pra vocês, adorei limpar seu banheiro.
Quando vão embora Dinah vê o banheiro mais “clean” do que nunca.
_ E ela não terminou! Loucura de uns, satisfação de outros.