Uma gota e lá se foi a infância...

Estava eu, em uma noite silenciosa, tão silenciosa que me sufocava. Os pensamentos vinham a tona. Como um eco que custa a sair da minha mente...

Me fechei novamente, o mundo exterior pausou naquele momento e lá vou eu viajar por onde só o meu coração pode chegar. Mesmo com tudo paralisado, escuto o cair de uma gota, certamente alguém deixou a torneira entreaberta.

E foi ao cair de cada gota que a minha mente se desmontou e buscou em um canto perdido as minhas belas e loucas memórias... A cada pingo, o meu sorriso se abria.

Fui fundo desta vez, voltei para a minha infância, cheia de atrapalhadas... Senti o abraço do meu avô, caramba! Uma lágrima saltou dos meus olhos. E pronto, se foi... O pingo era como se fosse um cronometro.

O intervalo de sensações e memórias eram o mesmo espaço de tempo entre uma gota e outra...

E foram muitas gotas, muitos suspiros de amores vividos, muitas risadas de piadas em roda de amigos, que hoje já não os vejo. Senti a dor de um ralado, esses machucados de crianças sapecas, sabe?!

E em meio a toda essa lembrança eu rezava, implorava, para que nenhum desavisado passasse pela pia e fechasse aquela torneira e junto deste ato, levasse todos os meus caminhos marcados pelo gosto de bolinho de chuva da minha amada Dona Maria...

Enquanto isso não aconteceu, fui desfrutando dos momentos, das minhas primas pequenas, do meu pai magro, do meu primeiro cachorro, do primeiro beliscão da minha mãe ... Ah, tudo mudou. Tudo se transformou em algo que hoje eu até mesmo desconheço.

A infância, aquele tempo que todo ser humano necessita ter. Onde tudo se inicia, as suas escolhas, os seus medos, os seus anjos da guarda...

Eu e a minha mente viajante continuamos vagando por tudo, até que eu ouço passos... E um girar na pequena torneira da pia fez com que aqueles lindos momentos fossem levados com as gotas... Ah, que saudade de brincar de ser feliz.