LEMBRANÇAS DE UM DIA FRIO DE JULHO...

O ano, 1983, os fatos:

Intervenção no dia anterior na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo, ainda localizado no 20º andar da Rua São Bento, para quem não conhece, o centro velho de São Paulo. O então ministro do trabalho do governo militar, Murilo Macedo, diante a ameaça de uma greve geral, mandou invadir as dependências da Associação Classista,prendendo diversos dirigentes, Luiz Gushiken, Augusto de Oliveira Campos Lucas Buzato e Tita Dias, entre outros, o que teria justificado a operação perante a opinião pública a apreensão de panfletos convocatórios para a paralisação.. Embora o regime já estivesse menos trancado, afinal o governo do Estado, eleito, era Franco Montoro, da oposição, ainda estávamos na gestão militar de João Batista Figueiredo. Á época eu era responsável pela compensação de cheques na ag. Barra Funda, entrando as 7, para deixar tudo pronto para a gerência até as 9. Ocorre que dormimos, eu e vários colegas também militantes, nas dependências do gabinete da então vereadora Luiza Erundina, transformado em uma embaixada, tendo a Câmara Municipal cercada por policiais militares. Ao amanhecer, para cumprir a agenda da improvável Greve, saímos sorrateiramente e nos dirigimos à porta da agência Central do Banespa, seria um ato simbólico e denunciaríamos a ocupação do sindicato e a prisão da liderança ocorrida um dia antes... Diversos focos sindicais se manifestaram, havendo prisões às pencas. O pessoal da agência Sede se aglutinava em torno de nós, que trazíamos as informações, o que gerou uma pequena aglomeração, chamando a atenção dos agentes federais, já que a PM a tudo observava à distância e, de certa forma, respeitosa ao movimento. Uma chave de braço do delegado chefe interino da PF, obrigou que os policiais nos conduzissem a um camburão, onde pude entender o que diria, se pudesse, as frutas em um liquidificador...Os colegas de agência (Rogério Fávero e Mauro dos Passos) correram para me substituir na função, caso contrário haveria um prejuízo imenso.Só no final daquele dia, após horas entre o trânsito dentro da viatura e retenção no porão da Rua Piaui,em cela anexa aos dirigentes,a nossa com 27 sindicalistas, alguns feridos, em exíguo espaço de 4x4, uma pequena multidão solidária nos saudava, entre eles minha ex mulher(ainda não éramos casados) e meu pai, então fomos liberados, já no final daquele atípico dia...

( Luis Gushiken foi deputado federal e ministro no governo Lula; Augusto de Oliveira Campos, presidente do Sindicato dos Bancários, Diretor Representante dos Funcionários do Banespa e vereador na cidade de São Paulo; Lucas Buzato foi deputado Estadual por 2 legislaturas, Tita Dias foi vereadora.)