COISAS DO PASSADO

Sinto uma saudade danada do passado. Sim, sei que o fluir do tempo é incessante, que as mudanças dos costumes são irreversíveis. Mas também sei que nenhuma moda é capaz de anular e deletar meus sentimentos e a minha nostalgia do passado. Digo nostalgia porque é assim que aopelido a saudade chique.

Concordo, dou a mão à palmatória, sou um homem atrasado, um homem não, um véio ressentido com a modernidade. Pra que mentir? Sou mesmo um dinossauro.

Hoje mesmo fiquei com os olhos marejando quando ouvi o pregão, pasmem, de um amolador de facas. Um cara cuja profissão é tão obsoleta quanto o meu apego pelo passado. Peguei logo as facas de dcortar carne e desci parqa mandar amolar, talvez nem precisasse, mas eu queria homenagear o amolador de facas, bater dois dedos de prosa com ele, reviver um pouco o passado. Hoje ninguém mandar amolar facas, joga fora e compra outra nova. Mas eu fico na contramão, nadando contra a corrente, em quase tudo. Vejam bem, de vez em quando levo meio velho rádio Philco Transglobe de oito faixas para consertar numa das últimas oficinas de consertar radio no Recife quefica na Encruzilhada, também lá mando botar meia sola em sapato, cerzir bermudas, e vou de ano em ano numa costureira mandar fazer duas camisas que tiro o ano com elas. Sou mesmo, hermanos, um homem do tempo do ronca.

E não dá mais tempo para mudar. Eita véio chato.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 22/07/2015
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