História de viagem

Sou observadora...e como não podia? 06 horas dentro de um buzu não há como fugir das observações. Pego meu livro e começo uma leitura. Logo, meus olhos são desviados para um passageiro jovem, alto ,vestido de preto, boné preto , óculos escuros e fones ao ouvido. Na mão apenas uma mochila. Caminha na minha direção e se senta ao meu lado, espremida na janela fico intrigada. Pensamentos voam... sinto um receio. Tento me concentrar em Rojo , letramento, escola, multiletramentos....mas aquele sujeito imóvel de braços cruzados me intimidava. De repente um som estranho, inacreditável...ronco , o cara roncava alto mas tão alto que fui obrigada a fechar o livro. Já não bastava me intimidar com a aparência ainda tinha o ronco em plena 10h da manhã.

Não conseguindo reter minha atenção no livro meus olhos pousaram em outra leitora no ônibus. Uma jovem bonita, loira, de uns 20 anos. Consumia o livro com uma avidez que me deu um certo prazer. Nada mais que 50 Tons de Cinza. Sorri com esta imagem da leitora e seu deleite com o conteúdo do livro. Se me lembro bem, li este mesmo livro dentro de um ônibus. Porém com uma diferença: eu escondia o livro pra ninguém ver minha leitura. No entanto ela deixava frouxo o seu livro sem se importar com os observadores. Lembrei também das críticas que recebi ao contar sobre minha leitura e volto a sorrir. Quem me criticou teria feito ótimo uso do conteúdo do livro e com certeza seria mais feliz. Então, você deve estar se perguntando: e o moço roncador? Ele continuava ali a me incomodar com seu barulho irritante...Eu tinha que fazer algo e fiz..

Toquei em seu braço uma, duas, três vezes. Ele acordou. Pedi gentilmente para que pegasse minha água que tinha caído do outro lado (que joguei de propósito). Sem dizer uma palavra me fez a gentileza. Pensei rápido: ou o mantinha acordado ou escutava o ronco que não era nada suave. Comecei a fazer perguntas. Lentamente ele retirou o fone do ouvido e me respondeu secamente " sim , não" , recolocou o fone e entendi que era um "não me amole". Dormiu e voltou a roncar. Fiquei irritadíssima com a situação. Respirei fundo , olhei pela janela e à medida que o verde do mato invadia minhas retinas a raiva passava pouco a pouco. Olhei pro moço e senti inveja... isso mesmo inveja!!!. como eu queria dormir também sem preocupação nenhuma. Percebi que não era o ronco que me incomodava mas o sono bom e prazeroso dele. Voltei a abrir meu livro e continuei minha leitura sem mais problemas. Sabe porque o invejei caro leitor? Se te digo meu destino... Instituto Médico do sono.

Pitufa
Enviado por Pitufa em 22/07/2015
Código do texto: T5319942
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