NO ANO PASSADO EU MORRI, MAS ESSE ANO EU NÃO MORRO
No ano passado morri de chorar, morri de tristeza. Eu tive um neto e ele se foi. Minha filha teve um filho e ele se foi. A mesma pessoa que lhe deu a vida foi quem lhe tirou dos seus braços. Relações cortadas, talvez pra sempre. Eu detestei 2014. Bastaram 3 dias para estragar 365. Porque morri e minha lápide não soube o que dizer. Ficou muda. Não recebi flores, o caixão e a cova me abraçaram. O cortejo fúnebre me cortejou por meses. Chorei, choramos, morri, morremos.
Mas esse ano eu não morro. Minha filha vai ter um filho. Vai sim. Dessa vez ninguém morre. Ressuscitamos milagrosamente. Minha Débora despontou do sono para o sonho. A droga da letargia lhe roubava o sonho, e a droga que lhe despertava era a mãe do seu devaneio. Os juízes, no quinto e na dúzia profetizaram: “Desperta, Débora, desperta, entoa um cântico”. Cumpriu-se. Agora, Quem pode dar a vida não vai tirar-lhe dos seus braços. Sorri, sorrimos, vivi, vivemos.