Quando você vai morrer?
Não me levem a mal queridos amigos e amigas, mas talvez seja o número aterrador de pessoas que estão morrendo na minha cidade. Não falo das mortes violentas, mas das naturais. Todo dia, morre um, ou dois ou três. E verifico a faixa de idade: entre os setenta e oitenta anos. O Nelson Rodrigues, com sua viva inteligência, costumava brincar com os amigos com a frase do título desta crônica: - “Quando você vai morrer?” Com certeza, ele vendo tanta gente morrer em sua volta, que achou inevitável fazer essa pergunta.
Tenho observado que os mais velhos começam a inventar qualquer coisa na vida para esquecer a morte que se avizinha. Já soube de um cara que passou a estudar o comportamento das formigas.
Eu estou preferindo fazer a minha torta, sem preocupações de aperfeiçoamento. Digo isso porque um personagem de Ibsen também fazia a sua torta, mas querendo torná-la a mais perfeita possível.
Surpresa mesmo foi tomar conhecimento de um velho na Inglaterra (fato contado pelo Bertrand Russell), no século passado, que estava estudando a linguagem das abelhas. E dizia o nosso idoso que as abelhas, ao regressarem de uma fonte de alimentos, dançam. E mais espantado fiquei, quando um tal de Lindauer dizia possuir registros de debates políticos das abelhas. Nestes debates em que se discutia o local adequado para um cortiço, chegavam a durar cinco dias.
Voltando ao velho da Inglaterra, ele mesmo afirmava que as danças das abelhas às vezes se tornavam irregulares, por razões que desconheço. E arrematava o velho : - “Existem verdades “indançáveis, como o inefável nome de Deus”.
Vivendo tanto tempo, minha vista alargou-se ao ponto de ver que as grandes explicações sobre o mundo ou o ser humano: a teoria da evolução, a psicanálise e marxismo, não passaram de inteligentes ficções.
Essas fantasias me tranquilizaram na juventude, pois pareciam ser verdades que melhorariam o mundo. Teorias que tudo explicavam.
Agora, na idade em que tenho que responder quando vou morrer, recuso-me a me refugiar em Marte, imaginando uma vida melhor. Não vou também ficar “Plutão”. Prefiro achar graça e dar razão ao estudioso das abelhas: As verdades são mesmo indançáveis.