Pequenas histórias 98
Pisca o cursor
Pisca o cursor a espera do meu comando. A espera de palavras que, num passe de mágica, fará surgir nessa telinha branca podre de consistência eletrônica.
Pisca o cursor e extrai da minha mente as mais terríveis palavras, as mais tétricas palavras, aquelas que estão no fundo do inconsciente amortecida pelo tempo de espera.
Cursor, pequeno sinal gráfico eletronicamente, piscando interruptamente sem ter um destino a não ser o da espera.
Terrível espera tão terrível que persistentemente num aparecer e desaparecer magnetiza os olhos fazendo as ideias voarem desordenadamente.
Meu Deus, quantas palavras terminando em “mente”, até parece proposital. Mas claro que não, é incompetência literária de quem tem medo de se expor.
Medo de se expor...! Tenho esse medo? Sabe que nunca parei para pensar. Todos têm medo de alguma coisa, no entanto, querendo ou não estamos nos expondo pelo simples fato de viver.
Não somos um simples cursor que fica piscando sem parar, não, não somos, mas agimos mecanicamente sem precisar de alguém pressionando teclas para nos fazer agir.
Temos um intenso pulsar a ponto de explodir as veias do corpo.
É não somos como o cursor, mas somos pessoas que ignorando o mecanismo, mecanicamente nos movemos no dia a dia embrutecido de raiva, ódio e vingança.
pastorelli