A corrida de George
George andava a passos largos na estreita calçada do centro da cidade e olhava de segundo em segundo em seu relógio de pulso. A cada passo e a cada olhada ele fazia uma careta de reprovação. Sua irritação estava tão explícita que as pessoas lhe davam bom dia e ele nem percebia. A gravata estava sufocando-o. Os sapatos brilhantes apertavam-lhe os joanetes. O paletó encolhera e fazia cócegas embaixo do braço, mas pudera, almoçava rápido e sempre eram comidas gordurosas todos os dias.
Chegando ao escritório de contabilidade, o qual trabalhava e tornara-se sócio há 15 anos, George sentou-se em frente ao computador, suando muito e ofegante, sem nada a dizer para os colegas, que estranhando seu comportamento perguntaram: “Tá tudo bem amigão? Parece que correu maratona”!
Ele então, se deu conta de que sua corrida chegara ao fim. George olhou sem riso algum para os colegas e respondeu: “acho que cheguei ao pódio e não recebi o troféu”!
Os colegas riram sem graça pelo tom desacorçoado de sua voz e voltaram ao trabalho sem dar importância. George olhava para a tela do monitor e via sua vida passar em um instante. Pensou em sua infância...nas brincadeiras com os amigos e banhos de chuva. A sensação de liberdade que sentia quando abria os braços para o céu deixando os pingos gelados molhar seu rosto e o largo sorriso que se fazia.
Havia esquecido como era sentir liberdade. Levantou-se bruscamente derrubando a cadeira e anunciou: “quero ser livre”! Arrancou a gravata, a camisa, os sapatos caros e correu para porta deixando para trás os olhares de espanto.
George abrira os olhos com aquele largo sorriso no rosto e tomou um susto! Amanhecera! O sol refletia em seu relógio de prata na cabeceira da cama. Deu um pulo e gritou: “Perdi a hora, Carolina”! A esposa virou-se para ele e disse:” meu querido, hoje é domingo. Você não vai para o escritório”.
Deitara novamente pensando que ainda poderia voltar ao sonho de liberdade e descobrir como teria sido atravessar aquela porta no escritório depois da corrida.