Na última sexta-feira, durante o turno noturno, na hora de dar as duas últimas aulas, encontrei a sala vazia.
 
Alguns minutos atrás um aluno dessa turma foi me visitar, avisei que já estava indo, pedi para eles aguardarem um pouquinho mais (eles não tiveram as duas primeiras aulas).
Ontem, segunda-feira, dei aula apenas a esses alunos, os desertores.
Peguei pesado, dei uma bronca geral, evitei o sorriso e a simpatia.
Propus uma atividade destacando a importância da vírgula, uma aluna protestou dizendo que não ensinei o assunto.
Como eu poderia ter ensinado o assunto se estava iniciando a proposta naquele instante?
Admito que não fui paciente, respondi com rispidez e ironia.
Depois o tempo correu, prometi corrigir o exercício na aula seguinte.
 
Posso não ter sido manso, mas nada fiz capaz de causar alvoroços.
Apesar disso, imagino que uma aluna decidiu reclamar com a diretora. Quando eu saía vi a mocinha adentrando a sala da direção.
Parece que ela reivindicou minhas boas maneiras.
 
Recordo que, no ano passado, um episódio de exaltação estragou o meu ano letivo, gerou brigas, desânimo, tristeza e um péssimo rendimento.
Dessa vez espero não ocorrer a mesma coisa.
A turma do ano passado era composta por um ou dois pilantras, agora são aborrecentes que os pais esqueceram de corrigir na fase propícia, ficando, então, resistentes aos sermões às vezes tão necessários.
 
* A escola pública se transformou em quê?
Os professores não podem pedir o mínimo respeito, estão condenados a encarar alunos repletos de direitos, sensíveis demais, intocáveis?
 
Os mestres necessitam guardar as frustrações?
Nas horas amargas a revolta deve ser engolida?
Como beber o cruel desgosto o qual tanto incomoda a alma? Escolhendo uma pepsi sem graça ou o refrigerante mais barato da praça?
 
Como será o amanhã se hoje os estudantes exigem, exigem e exigem?
Almejam a bagunça que decola indiferente, jamais a escola eficiente.
Ilmar
Enviado por Ilmar em 21/07/2015
Reeditado em 21/07/2015
Código do texto: T5318173
Classificação de conteúdo: seguro