COMPRA-SE UM AMIGO
“Precisa-se de um amigo”, era a frase escrita em meu peito e inscrita no meu desejo.
- Ei! ... Pode me conceder um minuto? Preciso lhe falar. Desculpe-me, o sussurro é para ninguém desconfiar, porque o negócio que proponho, disseram-me que é ilegal, que é contravenção ou coisa assim, mas mesmo assim, diante da precisão, vou arriscar. Por favor, chegue mais perto, “preciso comprar um amigo”. Não precisa se assustar. Sei... sei que amigo não se compra, que se deve conquistar de maneira natural, sem apelação ou imposição, mas está tão escasso hoje em dia! O mundo mudou muito... Amigo passou a ser mercadoria. Não se encontra mais entre os descansos vespertinos em rodas de chimarrão ou de tereré. Desapareceu até da vizinhança! Vive isolado entre muros! Deve estar muito ocupado fabricando futuros.
O mercado de conquista natural há muito tempo opera no vermelho. Ninguém tem tempo para “amenidades”, nem paciência para “futilidades”... por isso minha oferta ilegal.
Preciso de alguém com qualquer extensão de passado, que queira ser meu presente, que ouça meus desabafos sem querer me condenar ou dizer que estou errada apontando os defeitos que não consigo disfarçar. Quero alguém que me seja um farol aceso nas noites sombrias desta minha sinuosa estrada tão vazia.
O amigo que pretendo comprar não precisa ser de luxo, exclusivo, nem de última geração. Pode ter imperfeições, contanto que seu prazo de validade seja infinito e que quanto mais velho se tornar, mais importante se transforme para os dias que ainda hei de viver. Preciso de alguém especial que me empreste seus passos para fazer minha alma dançar.
Não sei se é possível estimar o valor comercial de um amigo assim, mas tenho moeda própria, para pagar cada minuto de felicidade que ao seu lado sentir.
E, se acaso for advertida por essa ilegalidade, ao fiscal da lei direi apenas a verdade. “Comprei este amigo em razão do meu estado de necessidade”.
Diante da justificativa, certamente serei perdoada.
(Texto: Ileides Muller - Do livro: Bazar dos poetas, em coautoria com o poeta Darci Cunha)
“Precisa-se de um amigo”, era a frase escrita em meu peito e inscrita no meu desejo.
- Ei! ... Pode me conceder um minuto? Preciso lhe falar. Desculpe-me, o sussurro é para ninguém desconfiar, porque o negócio que proponho, disseram-me que é ilegal, que é contravenção ou coisa assim, mas mesmo assim, diante da precisão, vou arriscar. Por favor, chegue mais perto, “preciso comprar um amigo”. Não precisa se assustar. Sei... sei que amigo não se compra, que se deve conquistar de maneira natural, sem apelação ou imposição, mas está tão escasso hoje em dia! O mundo mudou muito... Amigo passou a ser mercadoria. Não se encontra mais entre os descansos vespertinos em rodas de chimarrão ou de tereré. Desapareceu até da vizinhança! Vive isolado entre muros! Deve estar muito ocupado fabricando futuros.
O mercado de conquista natural há muito tempo opera no vermelho. Ninguém tem tempo para “amenidades”, nem paciência para “futilidades”... por isso minha oferta ilegal.
Preciso de alguém com qualquer extensão de passado, que queira ser meu presente, que ouça meus desabafos sem querer me condenar ou dizer que estou errada apontando os defeitos que não consigo disfarçar. Quero alguém que me seja um farol aceso nas noites sombrias desta minha sinuosa estrada tão vazia.
O amigo que pretendo comprar não precisa ser de luxo, exclusivo, nem de última geração. Pode ter imperfeições, contanto que seu prazo de validade seja infinito e que quanto mais velho se tornar, mais importante se transforme para os dias que ainda hei de viver. Preciso de alguém especial que me empreste seus passos para fazer minha alma dançar.
Não sei se é possível estimar o valor comercial de um amigo assim, mas tenho moeda própria, para pagar cada minuto de felicidade que ao seu lado sentir.
E, se acaso for advertida por essa ilegalidade, ao fiscal da lei direi apenas a verdade. “Comprei este amigo em razão do meu estado de necessidade”.
Diante da justificativa, certamente serei perdoada.
(Texto: Ileides Muller - Do livro: Bazar dos poetas, em coautoria com o poeta Darci Cunha)