Quase Nada

Desejei a toalha manchada de café. Desejei a mancha de manteiga sobre o desenho florido. Quis sentir o gosto de hortelã do seu beijo. Como a burrice parece não ter limites, adiantei até o pão na torradeira. O bicho saltou sagrado avisando que estava no ponto dos teus dentes.

Azar o meu. Me deu azia.

Eu preferi o biscoito de sal, . Tomei leite com achocolatado e iogurte com mel. Fiz tudo ao contrário do que fazia na sua presença (pelo menos uma vez...). Saí caminhando à esmo, comendo os gestos que antes soltos, brindavam as nossas mãos. Entrelacei o espaço à míngua. Preferi a morte/Porém não quero pensar nisso agora/Gritei com Deus, mas depois lembrei que Ele não existe. Que vontade de me punir. Burra feito uma porta.

Voltei da caminhada mais leve, porém indecisa e sem jeito. Sem saber o que fazer com o pão que pulou da torradeira. Resolvi dar para um cachorro de rua e o adotei - cãozinho tão lindo e tão meigo, preferiu ração ao invés do pão. Bichano íntegro, pensei.

Deus me livre dessa morte cega, ainda bem que aqui as cigarras cantam ilesas, morrem felizes e sem saber o que significa uma toalha manchada de café. Não vejo a hora de a noite voltar porque nela conto todas as estrelas através do teu olhar (burrice mata?). Me deitei mais leve. Agora tenho o meu cãozinho de estimação, e ainda ouço ao longe o canto de alguma cigarra solitária. _ Pobrezinha, morrerá em breve sem ao menos pousar numa toalha manchada de café.

Eu hein, que dramalhão. Quase nada.

Quase Nada ( Zeca Baleiro )

[https://youtu.be/D_oUDsDlzi4]

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 20/07/2015
Código do texto: T5317723
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